Há dois anos descobri uma flor em meu jardim. Ela já estava ali a mais tempo, porém somente a percebi há pouco. Passei a me sentir como o Pequeno Príncipe e até o reli para encontrar-me nas entrelinhas de sua história. Assim como El Principito amava a sua rosa eu amo minha flor. Sua presença é tão cativante que não consigo deixar de olhá-la quando ando pelo jardim. Sagradamente, todas as manhãs, para que meu dia inicie bem preciso vê-la, sentir seu aroma.
Esta flor bastante rara e que ainda permanece em botão propiciou-me um lento e saboroso desabrochar. Sim, eu que ainda não conhecia algumas partes de mim mesma, alguns sentimentos tão fraternamente maternais, descobri-me admirando-a, como numa espécie de reflexo do vir-a-ser. Não sei se me explico, mas é que as palavras não cabem, não dão conta.
Pudera eu dizer que voltei a viver o passado que não tive. A adolescência feminina que não expressei. A essência mulher que deixara arquivada para um-dia-quem-sabe. Sorrir à toa, falar sozinha, emocionar-me com uma música ou um filme, ler várias vezes a mesma mensagem, olhar por minutos a fio uma fotografia, desejar abraçar e beijar a todos que encontrar. Estes são apenas alguns sintomas de seu efeito sobre mim.
Como o Pequeno Príncipe via sua rosa, a vejo também, tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, à mesma hora, na mesma cena. Como se fosse duas. Esta dualidade típica da flor no ponto de desabrochar, me provoca a ser mais, a ampliar-me, a mover-me, a expandir-me. Meus horizontes cresceram, olho-me no espelho e me vejo, me reconheço e me interpreto. Ao vê-la aprendi e me ver de uma maneira nova, autêntica e sem medos ou receios.
Está quase na hora de eu viajar e conhecer outros mundos. Terei que deixar minha flor em nosso planeta-jardim. Meu coração se amedronta, porque será a primeira vez que nos separaremos tão demoradamente. A deixarei por encargo de si mesma, sei que é forte o bastante para sobreviver aos ventos e tempestades desta época. Sei também que cultivará as lembranças das nossas manhãs. Mas não posso deixar de sentir, pois foi exatamente o que ela me fez: abriu o baú onde repousavam os meus mais nobres sentimentos.
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