Realmente acho engraçado quando minha avó pergunta indignada: "Por que os bichos falavam no tempo em que Deus andava pela terra e agora não falam mais?" Sinceramente nunca sei o que dizer. Apenas a olho fixamente tentando decifrar o que se passa em sua mente.
De certa forma também acredito que os animais falem, não com voz humana, mas com a voz da metáfora que só o ouvido do coração pode escutar.
Estava eu sentada em meu sofá próximo à janela quando percebi uma luzinha verde piscar. Um vagalume! Há quanto tempo não via um. Pensava até que havia desaparecido da natureza. O vagalume tem o poder de provocar nossos sentidos, pois nos seduz para nos aproximarmos e assim que nos achegamos, ele pisca em outro lugar, motivando-nos a mudar de direção.
Decidi que o pegaria, simplesmente para vê-lo piscar entre meus dedos, não o machucaria. Então uma verdadeira maratona deu início. Primeiro tive que sair de minha zona de conforto, meu querido sofá. Sair para o quintal onde estava mais frio e andar cuidadosamente sem perder o foco da luzinha verde.
Como estava escuro precisava redobrar a atenção, mesmo conhecendo o terreno, na escuridão as coisas ficam misteriosamente desconhecidas. Aproximei-me e abaixei, via-o piscar entre as orquídeas que agora estavam abertas e que pela correria do dia a dia não havia percebido. Estiquei vagarosamente minhas mãos em forma de concha e quando pensava estar próxima o suficiente, ele apagou, deixando-me desorientada. Olhei ao redor e o vi piscar em outro lugar.
"Danadinho" - pensei. Vou até você. Levantei-me, executei alguns malabarismos para não escorregar na grama molhada pelo sereno da noite e com os olhos fixos naquela fascinante luz, retomei minha caçada. Desta vez o vagalume estava próximo ao pé de maracujá, aliás, havia me esquecido de tê-lo plantado. Como estava vistoso e grandinho. Agora pegaria o danado. Estiquei as mãos vagarosamente e quando quase o alcançava, apagou, voltando a piscar mais ao longe. Assim passei, quem sabe, uma hora ou mais. Até que me rendi.
Sentei-me e finalmente pude ouvir a sua voz enquanto piscava quase a meu lado. Dizia-me que luzes, sem importar a quantidade ou a intensidade, mesmo a de um vagalume, nos indicam caminhos, rotas novas. Obrigam-nos a ver mesmo sob a escuridão mais densa. Assim são algumas pessoas em nossas vidas. Não precisam ser candeeiros e nem holofotes, bastam ser um vagalume para nos retirar de nossa zona de conforto e nos revelar lugares e experiências novas.
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