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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

As sementes de maracujá

        Eu não me lembro, mas minha irmã tem um registro da infância que inclui maracujá do mato. Sempre que sente saudades comenta do quanto nossa tia lhe levava os tais maracujás, que sob a ótica de seu paladar - se é possível paladar ter ótica - são os maracujás mais doces que existe.
        Procurei pelos tais frutos em várias cidades onde passei, principalmente as interioranas, mas não encontrei as tais mudas. Todos alegaram que está cada vez mais rara. Nem as sementes encontrei. Investi em mudas da espécie amarela e azeda. Quatro mudas que tentam sobreviver aos ataques impiedosos das formigas cortadeiras.
        Para nossa alegria quando passamos uns dias na Ilha da Madeira encontramos pelas ruas carrinhos de frutas e, imaginem, quantidades enormes do maracujá do mato, de casca roxa e docinho. Foi um deslumbre para minha irmã que comprava os maracujás e os comia na rua mesmo, por meio de um furo na casca. Comi um ou outro, realmente são saborosos, mas para mim não têm gosto de infância, de carinho de tia, de travessura para consegui-los.
        Descobrimos que havia um mercado de frutas, flores e pescados na ilha. Claro que o visitamos, desejávamos descobrir se as frutas eram muito diferentes, e lá estavam os maracujás com mais cinco ou seis espécies que não conhecíamos. Comprar mudas seria inviável pois estávamos no início de nossa viagem, elas não resistiriam. Então, entramos numa casa de sementes e minha irmã me fez a pergunta fatal: "Você conseguiria cultivar estas sementes?" Meu primeiro ímpeto foi responder que não, eu não saberia cultivar sementes, só mudas, mas seu desejo era tão intenso que respondi que sim, que não seria muito diferente das mudas.
        Compramos as sementes. E para minha angústia elas permanecem ao meu lado, sobre a escrivaninha, da mesma maneira que vieram. Vez por outra ela pega o saquinho na mão e o olha atentamente e eu me contorço por dentro sem saber o que dizer. Outro dia aleguei que desejava cuidar de perto do seu crescimento e como estou numa fase de muitas atividades ao mesmo tempo, eu poderia deixá-las morrer. Acho que isto a consola. Mas não a mim que percebo cada dia mais que as sementes são muito mais difíceis de cuidar e que qualquer descuido pode prejudicar para sempre seu desenvolvimento. Me dou bem com as mudas, mesmo as mais frágeis, pois já são mais capazes de interagir com quem as cultiva.

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