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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O nome

        Eu desejava ouvir meu nome de sua boca. Havia entre nós mais do que uma admiração mútua, havia um elo de vida, talvez de uma vida anterior a esta - não que eu creia em vidas passadas - mas, creio na ancestralidade. Parecia que tínhamos um pedaço da mesma alma que ao se encontrarem se reconheciam e se buscavam.
       Compartilhávamos tempos e espaços comuns em realidades distantes. Eu, na maturidade, vivenciava uma adolescência tardia e me aventurava nas emoções desconexas e exageradas. Ela, na adolescência, vivenciava uma maturidade precoce. Acompanhava-me incansavelmente. Fazíamos de nossas manhãs um ritual de encontro, onde cada gesto contava como a água conta para a flor. As palavras não eram suficientes, não davam conta de expressar tantos pensamentos.
        Nossos olhos eram intensos e profundos, já que uma enxergava na outra o pedaço comum da sua alma. Descobrimos que havíamos sido feitas assim para que não vivêssemos no egoísmo pleno e na autossuficiência. E para que nossas histórias ficassem repletas de sentido e significado.
        Pronunciar seu nome me dava alegria. Fosse como fosse, no diminutivo ou pela metade. Cada forma revelava-me um sentimento que eu descobria aos poucos. Ora fraternal, ora maternal, ora amigável. Nossas conversas em pouco tempo perpassavam as diversas tonalidades possíveis -instrutivas, aconselhadoras, corretivas e triviais - como se a cada tempo assumíssemos papéis diferentes.
         Sua presença era intensa e serena ao mesmo tempo. Aproximava-se e chamava minha atenção sem precisar dizer meu nome, como se ao dizê-lo se desse conta de que eu já não fosse quem seus olhos vira. Então eu respeitava e esperava. Dizer meu nome significaria assumir uma amizade entre dois seres comuns, e tudo o que não queríamos era que nossa amizade fosse comum.
        Aos poucos nossas pétalas caíram e nossos interiores ficaram expostos e eu pude vê-la mais, pude admirá-la mais, pude amá-la mais, porque eu sei que as rosas sempre voltam, e perder suas pétalas é apenas uma maneira de dar espaço às novas. Eu - de meu lado - esperei o tempo em que ela olhando para o que sobrara de mim, pudesse chamar-me pelo nome. E, para minha alegria, muito delicadamente, aconteceu esta tarde.

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