Quando eu estava no ensino médio, descobri uma série de coisas que eu desejava fazer: intercâmbio, faculdade de medicina, Médicos Sem Fronteiras e tantas outras aventuras. Mera ilusão. Minha família nunca havia saído sequer de São Paulo, sair do país?! Era algum tipo de piada? Risadas coletivas, não, gargalhadas com direito a engasgo e tudo. Eu me sentia um lixo, um nada, menor que uma formiga. Era como se eu estivesse nua. A única coisa que minha família queria era que eu arrumasse um homem. E minha mãe me educava para a excelência do sexo.
O tempo passou e, por caminhos que a vida determinou, minha irmã menor sempre permaneceu aos meus cuidados. Sem que eu me desse conta desenvolvi o hábito de ver em si a realização dos meus sonhos. Passei a desejar ajudá-la a realizar todos os sonhos que eu não havia realizado. Tentei convencê-la a fazer intercâmbio nos EUA, mas ela ria de mim, depois tentei convencê-la a fazer faculdade. Ela relutou muito tempo e acabou fazendo Pedagogia, mas hoje percebo que escolhera tal curso por minha influência. E tantas outras situações que se tornaria cansativo elencá-las.
Afortunadamente houve um momento em que eu percebi que a sufocava com minhas ideias e não permitia que ela construisse e vivesse as suas. A vida se encarregou de colocar-lhe muitos obstáculos e todos estavam fora do meu alcance transpô-los por ela. Havia em mim um desespero terrível por não conseguir orientá-la ou ajudá-la de uma forma efetiva. Foi exatamente nesta época que ela encontrou seu caminho e passou a trilhá-lo. Absurdamente diferente do que eu havia imaginado para ela.
Decidiu e enfrentou um concurso com 140.000 candidatos e passou. Enfrentou cinco etapas eliminatórias e classificatórias. Hoje ela ocupa o cargo que 139.000 pessoas desejaram. É uma profissional competentíssima e eu a admiro profundamente. Eu a vejo mais feliz do que em qualquer outro momento. E o mais importante, tenho assumido os meus sonhos e lutado por eles e, a minha alegria a tem motivado também.
Este é um risco que corremos, o de que nossos pais, tios e irmãos queiram - mesmo inconscientemente - que realizemos coisas que eles desejaram e não puderam realizar. O que eu aprendi? Que nós precisamos nos conhecer, descobrir nossas habilidades e talentos e ser feliz ao realizá-los, a fim de que não haja espaço para que o outro o ocupe com seus sonhos, como se nós fôssemos um recipiente vazio, pronto para ser completado. Nós já nascemos completos, a beleza é que a vida brinca de revelar. Como a caça ao tesouro, precisamos vasculhar-nos, testar-nos e só assim encontraremos, aos poucos, com paciência e observação todas as nossas riquezas.
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