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Gosto de compartilhar pensamentos e vivências, porque ao retirá-los de mim posso enxergá-los melhor.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Oração de fim de ano

        É hora de agradecer. Há tanto por agradecer que nem cabe numa lista. O principal é a vida, estar viva e chegar ao final de mais um ano é algo a agradecer, quantos não chegaram. Muitas foram as minhas oportunidades e agora consigo reconhecê-las. Por todas eu sou grata.
 
        Sou grata pelas noites que dormi e também pelas que não dormi.
 
        Sou grata por todos os abraços que ganhei e por todos que pude dar.
 
        Sou grata pelas pessoas que conheci e pelas que já conhecia.
 
        Sou grata pelas pressões que consegui suportar e pelas que provoquei.

        Sou grata pelas situações que não compreendi e busco sentido.

        Sou grata pelas coisas que perdi e pelas que encontrei.

        Sou grata pelo que me tiraram e pelo que me deram.

        Sou grata pela saúde e pela doença.

        Sou grata pelo ar que respiro, pelo que vejo e pelo que toco.

        Sou grata por sentir e existir.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Meu fígado

        Há alguns anos atrás quando decidi, meio impulsivamente fazer um curso chamado Naturopatia, entrei em contato com teorias chinesas a respeito da saúde e da doença. Além de teorias indianas e de outras culturas milenares. O que mais me fascinou na época foi a visão holística que se desenvolve nestes estudos. Acho que de alguma forma eu já intuía tais conceitos, mas não sabia como explicá-los.
 
        Foi de fato um ano e meio de curso e interessantes aprendizagens, porém, há em mim um incômodo com as teorias. Elas sempre me insatisfazem. Quero dizer que por mais que eu aprenda, por mais que me expliquem, sempre fica o "será que é só isso"? E acabo me lançando no fogo do inferno das dúvidas. Mas hoje não pretendo destilar minhas incompreensões, mas sim refletir neste aprendizado e relacioná-lo ao meu estado atual.
 
        Recordo-me que tive um professor que nos explicou os conceitos básicos da medicina chinesa. Os elementos e suas relações com os órgãos e vísceras; os meridianos e os conceitos do Tao de yin e yang. Recebemos uma tabela para descobrir qual elemento nos rege, algo que calculávamos com nossa data de nascimento. Eu sou madeira. Ótimo. Mas o que isto significa? - perguntei-me.
 
        Não me lembro de todas as explicações, mas recordo-me que o órgão relacionado ao elemento madeira é o fígado e que o principal sentimento que lhe é relacionado é a raiva. Puxa. Não aceitei muito bem isto, acho até que fiquei com um pouco de raiva por saber, rsrs. Também aprendi que pessoas do elemento madeira desenvolvem enxaqueca. Não é fácil aceitar que se tem raiva. É quase como ter uma doença contagiosa, as pessoas não gostam de ficar próximas a quem tem raiva.
 
        Peguei-me em minha vida em vários acessos de raiva. Eu não queria ser assim, não queria ser conhecida como a nervosinha ou a raivosa. Passei a observar que algumas pessoas me viam exatamente da maneira contrária e aos poucos fui percebendo que a raiva não era a minha essência, mas apenas uma manifestação de que algo estava fora do meu controle, da minha possibilidade de compreensão. De criança eu costumava bater a cabeça na parede quando não aprendia algo. No começo minha mãe corria e me protegia, depois passou a deixar-me dizendo: "Quando  você sentir dor, vai parar". Então eu chorava até a exaustão.
 
        Acho que de alguma forma continuo batendo minha cabeça na parede e esta dor que agora me aflige é o sinal do momento de parar. Tenho uma voz doce e infantil que por vezes ressoa em minha mente dizendo: "Ah...por que você faz isso com você mesma?" Eu ainda não sei, meu bem. Só sei que estou cansada e quero parar, quero deixar ir embora tudo o que não preciso mais e ter a consciência limpa, com pensamentos frescos, novos e cheios de vida.
 

domingo, 23 de dezembro de 2012

A doença

        Há duas maneiras de parar nossa rotina e sair do esquema. Uma são as férias e a outra uma doença. Agora, quando unimos férias e doença, realmente perdemos o fluxo da nossa vida, perdemos o andar da carruagem, a direção e o sentido de muitas coisas.
 
        Quando saímos de férias quebramos a rotina pouco a pouco. Acordamos mais tarde, arrumamos as gavetas, jogamos fora ou doamos roupas e objetos que ficaram sem uso e perderam o sentido em nossa rotina. Mudamos os móveis de lugar, visitamos amigos que não visitávamos há tempos, vamos aos lugares que deixamos para outro dia e o tempo passa de maneira diferente.
 
        Mas quando estamos doentes e presos em um hospital o tempo nos condena à espera sem sentido, sem grandes movimentos além da luta para não sentir mais dor, a luta para não passar o dia todo na cama adormecendo nossos sentidos, a luta contra a falsa expectativa de alta, a luta contra o desespero de não ter a certeza de que sua vida está ou não em boas mãos, a luta contra sua própria ansiedade e a de seus familiares.

        Como sobreviver a si mesma nesta situação? Como não cair no abismo das perguntas sem respostas? Tais como: Por que eu? Por que justamente nas minhas férias? Por que nesta época do ano? E tantos porquês. Não sei se pensarei assim amanhã, mas hoje não me importa muito saber. Hoje quero sentir-me bem para que amanhã eu já me desperte bem. Talvez a vida seja exatamente assim. Não deixar com que as coisas se acumulem e tenhamos que fazer a faxina somente nas férias e que as férias não sejam apenas trinta dias do ano. E sim todos os dias. Talvez a vida queira me explicar que ela deve ser vivida totalmente cada dia. Em cada dia deve haver labuta e férias. Que a cada dia é preciso decidir jogar fora ou doar aquilo que já não me serve mais.

        Não reclamo minha condição, também não nego que ela me incomoda, mas quero sair muito mais saudável desta doença e muito mais pronta para viver cada dia da minha vida, sabendo separar os espaços e priorizar a essência
 
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Disque abraço

        - Alô? É do céu?
 
        - Você discou para o Disque Abraço - departamento do céu especializado em pessoas carentes. Se você deseja um abraço normal tecle 1. Se você deseja um abraço apertado tecle 2. Se você deseja um abraço apertado e demorado tecle 3. E se você deseja um abraço apertado acompanhado de um beijo carinhoso tecle 4.

       Esse departamento realmente funciona.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Façamos

        "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança", disseram que foi isso o que Deus disse. No plural. Por diversas vezes esta frase surgiu em minha mente estes dias. Não leio a bíblia faz muito tempo e nem me interessa mais discutir teologia. "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança". "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança". "Façamos...semelhança." "...o homem..." "Façamos o homem...". "...o homem semelhança". Mas o que isto quer dizer?!
 
        Qual o sentido de tudo isto? Há sentido? De quê vale perguntar por quê, se nunca teremos resposta? De quê vale refletir e refletir sobre as possíveis causas se as respostas podem ser tantas e nenhuma?
 
        Fui a última pessoa a vê-lo consciente. Por quê? Quem me responderá? Fui a pessoa que assinou os papéis de sua internação, numa escala hierárquica responsavelmente distante. Por quê? Fui eu quem testemunhei o desespero de minha avó ao vê-lo entubado e inconsciente. Por quê? Alguém me explicará? Sei que não.
 
        - Ele está gelado! Ele não acorda! Acorda meu filho! Abre os olhos, filho! Ele não acorda...Ele não volta mais, né?
 
        - Não, vó. Ele não volta mais.
 
        Por que fora eu a dizer-lhe? Onde estão os outros? Onde estão todos que não aparecem para permitir-me enfraquecer? Os outros já se foram...um a um, sem explicações se foram...Se ao menos eu conseguisse crer...Se ao menos eu tivesse a esperança de um reencontro...Se ao menos eu tivesse as visões, sensações, pressentimentos que tantos outros têm...Nada me é explicado. E quando penso haver encontrado um suporte, um colo, um apoio, um alguém onde eu possa ser frágil, me decepciono novamente, como se fosse a primeira vez. "Você está bem?" É uma pergunta retórica, porque se tento explicar e dizer que não! Que estou cansada, chateada, triste...ouço de volta "...tá, tá, depois a gente conversa".
 
        "Façamos o homem...a nossa imagem e semelhança". Para quê Deus faria isto? Se não temos parâmetro, como vamos saber a quem nos assemelhamos? Todos os saberes teóricos e teológicos nunca deram conta. Os psicológicos me mantêm um pouco em pé, os filosóficos anestesiam minha consciência e por um breve período deixo de sentir dor. Mas hoje eu clamo pelo afetivo, pelo abraço apertado, pelo calor do corpo, pelo cheiro...mas ele não vêm.
 
        Estou tão cansada de perguntar. Nem sei mais se as respostas adiantariam. Talvez elas se transformariam em sementes de novas perguntas, pois minha sede de saber é imensa. O tudo do nada que sei é que ainda tenho a vida.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A morte

        Puta que pariu! Ufa!!! Por vezes me sinto como aqueles personagens ninjas que lutam o desenho inteiro, sem tréguas, sem nunca vencer, pois sempre aparece um inimigo maior, mais forte, mais feio. Tenho lutado contra meus fantasmas. Alguns já despachei para as profundezas do inferno, mas outros, ah...alguns ainda me assombram, me atormentam.
 
        Por que em muitas situações não consigo ter a firmeza de que não estou fazendo nada de errado? Que as minhas atitudes são normais, justificáveis e corretas? Por que me sinto uma devoradora de criancinhas?
 
        A sensação que tenho é de que enquanto eu não enfrentá-lo, eu nunca descubrirei minhas reais forças. Já encarei a morte dezenas de vezes e agora ela retorna e terei que suportar o peso das consequências de meu envolvimento nesta história sem fim. História de álcool, drogas, violências, traumas etc, etc, etc. Terei que carregar o peso de não saber se fiz a escolha certa e se não me envolver teria sido melhor. Vamos lá. Seja o que a vida quiser.
 
        Eu só queria que pelo menos uma vez a vida quisesse que eu não acreditasse em quem me diz que faço a coisa errada e que eu não mereço ser amada. Puxa...eu queria poder olhar nos olhos deste fantasma e pedir para que me diga o que vê. Que me diga verdadeiramente o que sente e me explique o que fiz para merecer tal condenação.
 
        Estou tão cansada...cansada de viver como se a qualquer momento algo ruim me fosse acontecer ou aos que de mim se aproximam. Viver como se eu estivesse acumulando provas que um dia serão usadas para me acusar. Viver como se eu não fosse digna de ser amada, querida, admirada.
 
        A morte está espreitando, posso sentir sua presença. Acostumei-me com ela. A morte de tantos entes queridos, a morte de tantos envolvimentos, de tantas amizades...estou cansada. Cansada de fazer com que as pessoas se afastem de mim, cansada de destruir e ter que reconstruir.
 
        Vamos lá, caminhar até que a dona morte se satisfaça e por um breve tempo de deixe em paz.
 

Acessibilidade

        Eu estava impaciente. Não me saía da cabeça a ideia de comprar um aparelho celular com dois chips e ainda manter o meu antigo aparelho. Seriam três operadoradas e suas maravilhosas promoções para eu desfrutar. Meu subconsciente sabia muito bem que ao final das promoções as operadoras fazem de nossas vidas um inferno, mas o impulso era mais forte.
        Após as aulas e a caminho de casa decidi parar no centro da cidade e enfrentar as multidões compulsivas pelos presentes da época . Eu já havia pesquisado modelos e preços na internet, mas comprar virtualmente nestas datas era certeza de espera angustiante. Não, eu queria agora.
        Acabei entrando na mesma loja onde eu comprara o aparelho antigo há um ano e meio. Perguntei por preço, valores, vantagens etc. Comprei. Agora faltava passar nas lojas das operadoras e obter planos bons e baratos. Aqueles em que a gente fala quinhentos mil minutos e paga centavos e que depois de uns meses passa a te deixar na mão. Fui na primeira e adquiri a linha que me daria acesso à voz do meu querido. Eu não queria mais suas mensagens no Facebook eu queira a sua voz.
        Fui para casa com aquela ansiedade de criança que ganha brinquedo novo. Mil e uma funções que com certeza não usarei a metade. Para meu desespero, percebi que teria que digitar todos os meus contatos, já que os mesmos estavam salvos no aparelho e não no cartão de memória. Passei dois ou três números que considerei essenciais e dirigi-me ao meu compromisso noturno.
        No dia seguinte resolvi adquirir o segundo chip e após pagar dois estacionamentos, descobri que a tal operadora só tinha lojas dentro do shopping. Quando finalmente encontrei-a comprei o chip e como já tinha fome passeie até a praça de alimentação. Foi ali que comprendi porque tantas pessoas usam o celular enquanto comem e o porquê de meu desespero pelo aparelho mesmo me considerando uma pessoa consciente dos malefícios das novas tecnologias.
        Enquanto tomava meu suco de laranja com acerola, me veio à mente uma cena do dia anterior. Logo após a compra do aparelho segui em direção à praça de alimentação. Escolhi fazer uma refeição mais saudável e com a bandeja na mão percorri o espaço da praça em busca de um lugar para me sentar. O local estava repleto de pessoas. Sentei-me num balcão com pessoas adultas ao meu lado e crianças à minha frente. Eu mal podia abrir os braços.
        As crianças estavam tão perto de mim que me senti à vontade para elogiar seus pratos coloridos. Evidentemente que não obtive resposta. Então meu antigo celular me avisou de que havia uma mensagem. Com malabarismos a li; por sorte não era aviso da operadora, mas o contato carinhoso de uma amiga querida.
        Esta cena me fez pensar que nós mudamos a nossa maneira de nos relacionarmos. Antes só comíamos com a família, na mesma mesa, na mesma hora e situação. Depois a televisão nos roubou o convívio e agora nossas ocupações nos mantêm ainda mais distantes de nossas famílias. Sentamo-nos para comer diante de pessoas que nunca vimos, e aquele prazer sublime de dialogar enquanto comemos nos foi retirado. Creio que é por isto que as pessoas usam tanto o celular em praças de alimentação, eles querem se sentir parte de algo.
        Trabalhamos, andamos e comemos entre a multidão, mas nos mantemos como ilhas. Estamos fisicamente próximos de pessoas com as quais não temos vínculos e, de certa forma, estes aparelhos acessam nossos entes queridos. Foi assim que me senti ao ler minha mensagem.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Camila

        Preciso escrever para tornar menos dolorosa minha espera. Não que meu estado seja grave, apenas uma infecção urinária, exageradamente incômoda. A injeção no quadrante direito superior logo começará a fazer efeito.  Enquanto espero o resultado do exame, observo o jardim do hospital, aliás, um lindo jardim. Vários homens trabalham na montagem dos enfeites de Natal. Recordo-me que ainda não liguei o pisca-pisca.

         Ocorre-me que este ano não dediquei muito tempo ao meu jardim. Quem o vê esporadicamente nem percebe suas necessidades, mas eu que estou ali todos os dias posso ver e sentir o desejo de uma planta por ser podada, regada, adubada e até acariciada.

         Eu poderia até me sentir triste ou descontente comigo mesma, pensando que  o abandonei  ou que fracassei em minhas obrigações. Porém, aos poucos me conscientizo de que fiz exatamente o contrário. Todas as plantas que ali estão já receberam, cada uma há seu tempo, os cuidados mais elementares, por isto agora elas caminham praticamente sozinhas e só precisam de mim em poucas situações.  

         Dou-me conta de que na verdade eu estive envolta com a mais bela e delicada planta que brotou no meu jardim. Inspirando-me no amor do Pequeno Príncipe por sua rosa, tentei cuidar de minha planta com toda a dedicação que meu coração e mente solicitaram. E fui tão feliz que agora ao vê-la enraizada, percebo que aos poucos ela não precisará mais de mim na mesma proporção.

         Seus galhos crescerão para todos os lados e dentro em breve produzirão frutos. Sei muito bem, que isto não significa deixá-la à mercê dos climas, preciso estar atenta, para regá-la quando demorar a chover. Adubá-la após tempestades que levam a terra das raízes e acarinhá-la quando se sentir solitária. E é exatamente esta sensibilidade que peço à Mãe Natureza que mantenha permanente em meu coração e em meus olhos, para que eu não me distraia e a deixe secar e nem para que eu exagere e a sufoque de água apodrecendo suas raízes. 

        Sei que no futuro muitos se admirarão por sua grandeza e desejarão descansar e acolher-se em sua frondosa copa. E eu me lembrarei de cada galhinho que vi nascer e serei sempre grata pela vida tê-la me confiado tão intensamente neste tempo delicado de enraizamentos. Mas, acima de tudo, por ela ter transformado o meu jardim na Floresta Encantada.

 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Perguntas

        Será que se nós tivéssemos várias vidas conseguiríamos descifrar nossos mistérios? Nos compreenderíamos melhor? Encontraríamos as respostas para nossas perguntas com mais rapidez e clareza? Ou na verdade, poucas pessoas desejam descifrar-se e este incômodo só pertence a uns poucos mortais?
 
        O que sei é que a vida tem um jeito pouco esclarecedor de me tratar. As coisas acontecem e somente após muito tempo elas se explicam. Será que seja porque eu não saiba perguntar ou não aceite de pronto a resposta dada? Será por que tenho mais medo do que imaginava? Eu não sei. Só sei que um dia elas aparecem, elas chegam.
 
        Eu só queria saber conviver bem com as dúvidas e receios até que as respostas chegassem e não sentir tantas emoções desconexas no mesmo dia. Queria ter mais clareza e discernimento dos fatos, das pessoas, das situações. Seria isto uma espécie de controle? De domínio? Me faria mais mal do que bem? Não sei, só sei que é assim. Lento, pouco a pouco, quando menos espero.
 
        Pedir a Deus tenho minhas ressalvas. É certo que Ele me dá o que peço, sempre acompanhado do mesmo manual de instruções com uma única linha: "Vire-se." Ah! É tudo tão estranho. Quando encontro alguém que me marcou de maneira negativa, logo me vem à cabeça: "Como pôde esta pessoa ter o peso que teve em minha vida?" E percebo que não é a pessoa em si, mas o que ela representou num determinado momento de minha história. Foram os seus papéis naquele espetáculo.
 
        Esta noite, conversando com uma pessoa querida que dividiu um período da vida comigo, me dei conta de que nossas vidas apesar de terem se cruzado, mantiveram memórias diferentes de nós mesmas. Eu, cheia de remorsos e traumas. Ela, repleta de lembranças de tardes com violão e ensaios de teatro comigo. Era a mesma cena e o mesmo palco. Fôra eu que escolhera meus papéis ou me foram atribuídos?
 
        Podemos escolher nossos papéis? Podemos decidir em qual palco atuar? Podemos contracenar com quem amamos? Ou tudo é fruto do acaso? Ou de uma identificação? Perguntas, perguntas...e poucas respostas. A única coisa que sei é que no palco que hoje atuo há mais sentido, há mais amor, há mais tolerância, há mais olhar, mais pele, mais suor, mais cheiro, mais braços e bocas. O que sei é que tanto corpo é o que sustenta a minha alma.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
 
 

Setenta

        São setenta posts. De onde vieram? Como consegui escrevê-los num ano tão cheio de atividades, compromissos e responsabilidades? Havia muito tempo que eu desejava voltar a escrever, bem mais de quinze anos. Sonhei com a oportunidade de fazê-lo. Não que me faltasse caneta, papel ou mesmo computador. Me faltava o impulso, o tema, o incômodo, a chama. É por isto que neste post de número setenta, vale a pena parar um pouco e refletir.
 
        O que eu consegui escrever senão minhas visões limitadas e, por vezes, adolescentes das emoções que vivenciei? Qual o valor literário dos meus textos? Nenhum, creio eu. Talvez um valor terapêutico. A sagrada mágica de depositar na tela em branco coisas com as quais não se sabe exatamente como lidar.
 
        Comecei pelas metáforas, mas logo perdi a mão. Necessitei me despir, usar a primeira pessoa, me olhar no espelho, me ver de longe. Sim. É exatamente esta a sensação que se tem após ler o que se publicou. Passado algum tempo, é como se outra pessoa houvesse escrito. 
 
        Nesta brincadeira de me escrever e me reler. Me descubro várias; assim como já me descobri numa colcha de retalhos, composta por pedacinhos nem sempre iguais e regulares de tudo aquilo que poderia compor uma única peça. São tantas as experiências, tantas as emoções que nada em mim permanece igual. A não ser os medos e algumas poucas angústias nascidas de um passado que teima em voltar.
 
        Este post 70 não é para relembrar dores, mágoas ou um passado conturbado. É para comemorar o meu retorno ao palco das letras, mesmo como uma humilde amadora. É para comemorar a vitória dos que caminham ao meu lado e de suas conquistas neste grande espetáculo que é a vida. É para agradecer os temas, a motivação, as metáforas, o incômodo que me propiciaram. É para dedicar-lhes e retribuir-lhes o carinho que alquimicamente retivemos no olhar, mesmo após enxergarmos nossas limitações.  
 
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Oração ao Tempo

        Como explicar o inexplicável? Como definir o indefinível? Hoje voltei a rezar como a muito tempo não fazia, pois a minha razão não encontra mais caminhos. Então é hora de dobrar os joelhos e humildemente pedir a Deus que reconstrua o que destrui, que cure o que machuquei, que console ao que magoei. E pedir ao tempo que em sua onipotência e misericórdia, olhe por nós.
 
 
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Sou grata

        Virei a folhinha do calendário. Menos de um mês para acabar o ano. Não gosto da palavra acabar, ela machuca e angustia. Está certo que em alguns momentos da vida a solicitamos, principalmente nos momentos de dor. Mas quando se trata de momentos felizes, ela não deveria ser mencionada. Quem sabe seria melhor usar palavras como passagem, mudança de ciclo, não sei, mas acabar é triste.
 
        Por outro lado, estas épocas são boas para uma faxina, seja da casa física, seja da casa interior. Separar o que precisa ser reciclado, ou até mesmo jogado fora. Está aí, reciclar seria melhor do que acabar! Reciclar ideias, posturas, relacionamentos, etc. Reconhecer o que foi bom e deve continuar, e o que não foi tão bom assim e precisa reciclar, dar novos ares. Creio que nem consegui ainda me dar conta de tudo o que aconteceu este ano.
 
        Trabalho, viagens, cursos, família, casa...e, acima de tudo amores. Dois grandiosíssimos amores que se complementam e me completam. Dois amores que me sustentaram todas às vezes que tropecei, que apanhei - literalmente - que precisei de um colo, de um abraço, de uma conversa, de um olhar, de um sorriso. Confesso que tive muito medo, medo de não ser verdade, medo de sofrer, medo de iludir-me, medo de me machucar, medo de não ser digna, medo, medo, medo...Medo de que a paciência do outro se esgotasse de mim.
 
        Caminho para o encerramento do ano com lágrimas involuntárias que brotam sem que eu perceba. E que quando sou amada escorrem por nossos corpos e se misturam com o nosso suor. Lágrimas que não consigo explicar de onde vêm. Não são de tristeza, nem de dor. Só sei que elas brotam de uma parte de mim que nunca fora explorada. Nascem de lugares que ninguém havia ousado conhecer e, que aos olhos do outro, é como descobrir um tesouro. Engraçado, por vezes me sinto como as cachoeiras que gosto de visitar, mas que é preciso atravessar caminhos difíceis para vê-la. 
 
        O que mais poderia acontecer de bom, senão, atravessarem as minhas pedras, os meus obstáculos? Eu sou grata pelos que chegaram até aqui. Pelos que me descobriram e me ajudaram a me descobrir. Eu sou grata pelos braços que me envolveram, pelas bocas que me beijaram e me sorriram. Eu sou grata pelas palavras de carinho. Eu sou grata pelas mensagens que teimo em guardar como um pedaço de si. Eu sou grata pelo amor que me dedicam. Eu sou grata por este ano e pelos que virão, pois, aconteça o que acontecer, tomem nossas vidas rumos diferentes, nada e niguém poderá retirar de nós tudo o que vivemos. Amém.
 
 Vocês me fazem tão bem...