Quem sou eu

Minha foto
Gosto de compartilhar pensamentos e vivências, porque ao retirá-los de mim posso enxergá-los melhor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Acessibilidade

        Eu estava impaciente. Não me saía da cabeça a ideia de comprar um aparelho celular com dois chips e ainda manter o meu antigo aparelho. Seriam três operadoradas e suas maravilhosas promoções para eu desfrutar. Meu subconsciente sabia muito bem que ao final das promoções as operadoras fazem de nossas vidas um inferno, mas o impulso era mais forte.
        Após as aulas e a caminho de casa decidi parar no centro da cidade e enfrentar as multidões compulsivas pelos presentes da época . Eu já havia pesquisado modelos e preços na internet, mas comprar virtualmente nestas datas era certeza de espera angustiante. Não, eu queria agora.
        Acabei entrando na mesma loja onde eu comprara o aparelho antigo há um ano e meio. Perguntei por preço, valores, vantagens etc. Comprei. Agora faltava passar nas lojas das operadoras e obter planos bons e baratos. Aqueles em que a gente fala quinhentos mil minutos e paga centavos e que depois de uns meses passa a te deixar na mão. Fui na primeira e adquiri a linha que me daria acesso à voz do meu querido. Eu não queria mais suas mensagens no Facebook eu queira a sua voz.
        Fui para casa com aquela ansiedade de criança que ganha brinquedo novo. Mil e uma funções que com certeza não usarei a metade. Para meu desespero, percebi que teria que digitar todos os meus contatos, já que os mesmos estavam salvos no aparelho e não no cartão de memória. Passei dois ou três números que considerei essenciais e dirigi-me ao meu compromisso noturno.
        No dia seguinte resolvi adquirir o segundo chip e após pagar dois estacionamentos, descobri que a tal operadora só tinha lojas dentro do shopping. Quando finalmente encontrei-a comprei o chip e como já tinha fome passeie até a praça de alimentação. Foi ali que comprendi porque tantas pessoas usam o celular enquanto comem e o porquê de meu desespero pelo aparelho mesmo me considerando uma pessoa consciente dos malefícios das novas tecnologias.
        Enquanto tomava meu suco de laranja com acerola, me veio à mente uma cena do dia anterior. Logo após a compra do aparelho segui em direção à praça de alimentação. Escolhi fazer uma refeição mais saudável e com a bandeja na mão percorri o espaço da praça em busca de um lugar para me sentar. O local estava repleto de pessoas. Sentei-me num balcão com pessoas adultas ao meu lado e crianças à minha frente. Eu mal podia abrir os braços.
        As crianças estavam tão perto de mim que me senti à vontade para elogiar seus pratos coloridos. Evidentemente que não obtive resposta. Então meu antigo celular me avisou de que havia uma mensagem. Com malabarismos a li; por sorte não era aviso da operadora, mas o contato carinhoso de uma amiga querida.
        Esta cena me fez pensar que nós mudamos a nossa maneira de nos relacionarmos. Antes só comíamos com a família, na mesma mesa, na mesma hora e situação. Depois a televisão nos roubou o convívio e agora nossas ocupações nos mantêm ainda mais distantes de nossas famílias. Sentamo-nos para comer diante de pessoas que nunca vimos, e aquele prazer sublime de dialogar enquanto comemos nos foi retirado. Creio que é por isto que as pessoas usam tanto o celular em praças de alimentação, eles querem se sentir parte de algo.
        Trabalhamos, andamos e comemos entre a multidão, mas nos mantemos como ilhas. Estamos fisicamente próximos de pessoas com as quais não temos vínculos e, de certa forma, estes aparelhos acessam nossos entes queridos. Foi assim que me senti ao ler minha mensagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer compartilhar tua opinião?