Janeiro é um mês atípico, quase não me lembro das coisas que faço, o que é injusto pois é quando elaboro meus projetos e estabeleço metas para o ano, nem que seja entrar numa academia. Metade do meu janeiro deste ano se passou numa viagem, que juro ter sido mais viagem espiritual do que física. As pessoas costumam dizer que lá é um lugar mágico e tem energias incas pelo ar, eu não senti nada disso, mas agora, aos poucos, acho que é verdade, porque voltei diferente.
Quando me perguntam: "Você gostou da viagem? É legal lá? Você me recomenda?" Fico sem saber o que dizer, porque a primeira frase que me vem à cabeça é: "Não gostei", mas não digo assim, na lata, começo a explicar sobre a pobreza, a comida, a altitude e, de repente a pergunta insiste: "Mas você gostou ou não?" Se eu disser que não, é como se eu fosse uma ingrata, mal agradecida; se disser que sim, estarei mentindo, o que não consigo fazer direito.
Por mais racional que eu seja, minhas decisões mais importantes foram intuitivas e esta viagem não foi tão planejada, nem era um sonho fazê-la, eu simplesmente comprei a passagem e fui. Claro que consigo dar muitas justificativas lógicas como: vou fazer um curso e me aperfeiçoar, vou conhecer um pouco mais a América Latina e blá blá blá. O real motivo não sabia, digo que não sabia, porque acho que aos poucos estou descobrindo.
Há viagens que não são viagens físicas, são espirituais, são psíquicas. São viagens ao encontro de si mesmo, de enfrentamento de medos, traumas, dramas, enfim, de nossas mazelas mais profundas. E ali me vi diante de muitos dos meus medos: o medo de terras desconhecidas, o medo de passar mal, o medo de me decepcionar, o medo de altura, o medo de perder o avião, o trem, o táxi. Estes elementos todos foram reais, mas podem ser compreendidos também como metáforas.
Não sei se todas as pessoas assumem para si estas leituras de suas vidas e nem sei se isto me faz mais ou menos em relação aos outros, mas sei que não consigo viver sem encontrar sentido nas coisas, sem fazer releituras, sem mudar ou desejar mudar, ser melhor, ser mais feliz e vencer cada dia a mim mesma, aos meus dramas, aos meus traumas e caminhar, passo a passo devolta pra casa.
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