Quem sou eu

Minha foto
Gosto de compartilhar pensamentos e vivências, porque ao retirá-los de mim posso enxergá-los melhor.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Meu cão-menino

        "Por que o Lui está assim?", "Assim como?" - perguntei. "Arredio". "Porque ele está triste e ressentido". Lui é o meu cachorro, o meu primeiro cachorro, aquele que eu pude decidir sozinha tê-lo e assumi-lo. Costumo dizer que nós nos salvamos do abandono. Desde pequeno ele se acostumou a ficar alegre com a minha chegada, a brincar de morder a minha mão, a subir no meu colo quando eu me sentava pelo quintal, a se deixar coçá-lo todo, receber massagem e me lamber como gesto de carinho mútuo. Mas desde que minha irmã veio morar aqui e trouxe seus dois cachorros, as coisas mudaram.
 
        No começo ele ainda ocupou seu espaço, mas aos poucos foi se excluindo. Quando chego do trabalho ele tenta vir ao meu encontro e para no meio do caminho, me olha nos olhos e depois volta para onde estava. Não sai mais atrás de mim pelo quintal e fica o tempo todo sozinho dentro da casinha, numa espécie de depressão.
 
        Minha outra cachorra, a Luna, ficou nervosa no começo, mas agora está super ambientada e descobriu um aliado para suas corridas pelo quintal - o Biscrok. A Tchuca é sua submissa e a segue por todos os lados.
 
        Sinto-me triste e culpada pelo estado depressivo do Lui e fico sem saber o que fazer. Hoje tive uma luz no fim do túnel. As pessoas dizem que os cachorros se parecem com os donos. Eu creio que como animais sensíveis e amorosos, eles captam facilmente as energias de seus donos e as canalizam em si mesmos. O Lui tem agido como eu estou agindo.
 
        Amo minha irmã e gosto do meu cunhado, mas desde que eles se mudaram para cá, tenho permanecido mais dentro de casa no meu quarto do que no meu quintal. Muito do meu espaço já não é mais meu e tenho que lutar para que sua personalidade não se imponha sobre mim da mesma maneira que o Biscrok se impôs ao Lui.
 
        Passei a tarde cortando a grama e pensando em como administrar a única questão que ainda me tira o sono e remexe os meus ânimos - o cuidado de uma menina. Ao final da tarde resolvi prender os outros cachorros nos fundos e brincar com o Lui. Tive dificuldades em  levá-lo para frente, ele agora foge de mim com as orelhas baixas. Peguei-o no colo, me sentei e durante quinze minutos fiz massagem em sua cabecinha e costas. Durante os quinze minutos ele tremeu e ficou em pé, rígido.
 
        Aos poucos ele cedeu e quando eu parava ele colocava a cabeça embaixo da minha mão como que pedindo mais. Assim permanecemos como nos tempos de outrora. Então tive a ideia de ver se ele ainda gostava de brincar comigo e joguei um pedaço de vaso de plástico. Ele correu e agarrou-o, fiz que também o queria e tentei pegá-lo, fiz isto várias e várias vezes. Até que ele agarrou o plástico e a minha mão, segurou-nos tão fortemente que agachada comecei a chorar e percebi que meu cachorro estava ali, pronto para me amar novamente. Que seu afastamento era a incerteza de ainda ser amado. A personalidade impositiva e dominadora do Biscroik semeou em seu coração esta dúvida, o afastou de mim e de seu espaço por direito.
 
        Eu chorei como a tempos não chorava e ainda me comove ao escrever. Aos poucos ele soltou o plástico e tentou lamber minhas lágrimas e então eu percebi que ainda estava ali, pronta para ser amada por meu cão-menino.  
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer compartilhar tua opinião?