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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Lima - a chegada

        Há três dias cheguei ao Perú e somente hoje começo a me familiarizar. Não sei se estou ficando velha, medrosa ou apenas cansada. Um dia antes da viagem senti tremores de medo, um mal estar, queria desistir; não poderia, muitas economias haviam sido investidas nesta aventura.
 
        Quando o avião pousou em Lima o céu estava cinza e assim permaneceu por dois dias. O táxi me cobrou uma fortuna e passeou comigo em lugares que tive medo. Não que minha realidade não seja também periférica, mas na periferia alheia somos desconhecidos. Pensei sobre o que eu estaria fazendo ali. Claro que a desculpa do curso ajuda, mas eu provavelmente não aprenderia muito mais do que já sabia.
 
        Finalmente chegamos à Miraflores, um bom bairro, bem organizado, arborizado e tranquilo. Uma senhora com rosto indígena me recebeu, me dice tão rapidamente seu nome que sou incapaz de recordá-lo. Logo queria saber de onde eu vinha e quando lhe respondi que era de São Paulo - Brasil, suspirou fundo e disse: "Ainda bem, pensei que você fosse chilena, você tem jeito de chilena". Peruanos e chilenos se tratam como brasileiros e argentinos.
 
        Ela me mostrou todos os cômodos da casa e me deixou em meu quarto, um espaçoso quarto com duas camas, um guarda-roupa e duas mesinhas. Eu ficaria sozinha, logo pensei na aluna que não pôde me acompanhar, ela me teria feito companhia.
 
        Eu precisava comer e nem imaginava por onde começar a procurar por um restaurante. Como era domingo a rua estava deserta. Saí caminhando e cheguei a uma avenida onde pensei ter um restaurante, mas só havia comércio. Perguntei a um rapaz onde eu poderia encontrar um supermercado e ele me respondeu que eu teria que ir de ônibus. Andar de ônibus em Lima é arriscar a vida. São microônibus que eles chamam de "combi" tão antigos que não sei definir o ano. Nunca fui à Índia, mas pelos filmes que já vi, posso dizer que o trânsito aqui é como lá. Quase não há regras e o uso excessivo da buzina é enlouquecedor. Os carros são amassados e velhos, na maioria.
 
        Enfim, o rapaz me indicou um mercado umas duas quadras adiante. Fui e tive a sensação de estar no meu bairro. Era um local muito pobre e o mercado ao ar livre vendia desde comida, frutas, material de limpeza até roupas. Vi um prato de talharim com um molho verde, parecia muito apetitoso e o preço dava para o meu bolso. Tive medo, pensei que seria perigoso para meu estômago, mas eu estava com fome, havia levantado às três horas da manhã e ainda tinha o fuso horário de três horas de diferença. Arrisquei e pedi um prato de talharim com molho de espinafre e um bife.
 
        A quantidade era tanta que eu o  comeria por dois dias. Sem levantar a cabeça para os lados e rezando interiormente para que nada me fizesse mal, passei a comer demoradamente. De repente uma mão chegou próximo ao meu rosto. Era um senhor com apenas um braço que me servia um suco, certamente incluso no menú. Uma água amarela e rala que havia saído de um balde de roupa sem tampa de encima de uma cadeira. Quase entrei em pânico, eu não conseguia beber aquela água. Antigamente eu dizia ter estômago forte, mas a natureza me provou o contrário. Dei alguns pequenos goles, pois me lembrei que me haviam explicado que os peruanos se ofendem quando colocam comida no prato e você não come tudo. Talvez isto não sirva para estabelecimentos comerciais, mas eu não queria arriscar ser mal tratada no primeiro dia e naquele lugar. Comi tudo, mas não bebi todo o suco.
 
        Levantei-me e decidi andar bastante para fazer digestão. Comprei frutas, leite, bolacha, água e voltei para casa. Deitei por uma hora, coloquei uma roupa mais fresca e decidi ir até a frente da escola para saber onde ficava, assim não correria o risco de chegar atrasada no dia seguinte, ou ficar estressada. Com o mapa na mão coloquei-me a caminho e após trinta minutos encontrei a escola que me acolheria por duas semanas.
  

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