Algo encantador aconteceu, pelo
menos para aqueles que gostam e acreditam em coisas encantadas.
- Você é uma escritora lenta! – disse ironicamente
sapinha Marrom.
- Como você quer que eu escreva se não
tenho inspiração? – respondeu tristemente sapa Verde.
Jogando o corpo para trás, num gesto de
domínio da situação, exclamou sapinha Marrom:
- Ah...Verde! Escrever é mais do que
inspiração, é preciso praticar muito, dominar as regras da escrita, escrever,
reescrever, pedir a opinião de um leitor...
- Bem sei, Marrom. Mas também sei que se
não houver algo dentro de nós que nos mova os desejos, nada escreveremos.
- Então você precisa despertá-los.
Ao ouvir tais palavras, Verde levantou os
olhos e se deparou com aquele olhar investigador, revelador de um esquema
mental digital, porque analógico é coisa do passado, era aquele olhar que há
tempos já conhecia. Então pensou: “Fodeu”.
- Vamos Verde, daremos um passeio pela
floresta e se depois disto você não se sentir inspirada, escreverá sobre tua
falta de inspiração.
Sem dar tempo de decisão à Verde, a sapinha,
atrevida, puxou-a pela mão.
Saltitaram entre folhas, gramados, poças
d’água, teias de aranhas, ervas medicinais, árvores frutíferas, tijolos velhos
e madeiras. Pararam diante de cada elemento que Marrom usava como fonte de inspiração para a escritora:
- Então, o que vê? Sente-se inspirada?
Você escreveria sobre isto?
- Sobre o quê?
- Sobre um pedaço de madeira.
- Talvez, mas o que eu diria?
- Não sei, você é a escritora aqui.
- Acho que não.
- Está bem, então vamos saltar um pouco
mais.
E sapinha Marrom segurando a mão de Verde
a levava para outro ponto de observação. Assim passaram toda a manhã sem que
Verde tivesse alguma inspiração significativa o suficiente para escrever, fosse
uma poesia, um conto, uma narrativa ou qualquer outra forma de literatura.
Já cansadas de tanto saltitar e com muita
fome, decidiram sentar-se para comer. Como era seu costume quando saia, sapa
Verde levara um lanche de moscas em conserva, pois não sabia se encontrariam
lugar para comer. Não menos prevenida, sapinha Marrom levara seu lanchinho de
patê de moscas e sua bebida preferida: suco de insetos fermentados.
Escolheram o lugar com mais limbo,
debaixo de uma costela de Adão. Organizaram uma espécie de mesa de piquenique e
começaram a comer. A conversa fluía naturalmente, se recordavam dos lugares por
onde haviam passado e riam com as reações uma da outra. Nem perceberam o tempo
passar. Quando o alimento já havia desaparecido de diante de seus olhos e
juntavam as coisas para voltar, sapa Verde sentiu uma imensa ternura por
sapinha Marrom e olhou dentro de seus olhos. Sapinha Marrom que guardava seus
pertences sorriu, desviou o olhar e disse:
- Por que você me olha assim? Teus olhos
brilham tanto que ofuscam os meus.
E então sapa Verde sentiu-se inspirada a
escrever sobre o brilho dos olhares daqueles que se querem bem. Depois de
várias correções, publicou em seu sapoblog e muitos outros sapos e sapas
puderam compartilhar esta experiência.
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