Seus
olhos fixos na lixeira de alumínio com detalhes em preto pareciam emitir laser.
Imaginou-se abaixando, pegando a lixeira
com as duas mãos e lançando-a contra o teclado do caixa eletrônico. A proteção que
envolvia o computador se romperia, e o teclado que a havia enganado
inescrupulosamente, submergiria e lhe entregaria seu dinheiro.
Os
tensos minutos de espera pela resposta à solicitação de saque, mais
pareciam horas. Abusando do poder de posse das mágicas cédulas, a máquina
processou seu suplício e ironizou sua necessidade. O dinheiro estava ali, seria
só esticar a mão e pegar, se não fosse o sarcasmo metálico falando mais alto e mantendo as
cédulas encarceradas.
Está certo que aquele dinheiro na
verdade não era totalmente seu, mas o banco o havia oferecido generosamente
por cartas, e-mails e no próprio extrato. Não havia muita escolha, ou aceitava e
devolvia com juros e correções, ou deixava o carro sedento por combustível dormir
sossegadamente no estacionamento do hipermercado.
Era uma tarde comum, com pouco
movimento, então o espetáculo da destruição do caixa eletrônico seria visto pelos
funcionários das pequenas lojas. E enquanto se dirigisse à saída diria aos
gritos que voltaria com a polícia. Certamente ouviria alguém dizer:
-
Ai vai uma louca!
Pensou
no quanto estaria sozinha, porque mesmo as mulheres ao seu redor, naquelas
lojas de cosméticos e acessórios não lhe seriam solidárias e confirmariam a
tese de sua loucura. Porque as pessoas ficam indignadas e clamam por justiça, mas quando veem outro fazer a mesma coisa, abaixam a cabeça e fingem não ver.
Então
ouviu uma voz irritada:
-
Vai demorar muito aí? Tem mais gente querendo usar o caixa.
Como
que despertando de um pesadelo, voltou-se para as pessoas atrás de si e
respondeu quase como um robô:
- O caixa está com defeito.
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