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sábado, 28 de abril de 2012

O caixa eletrônico


Seus olhos fixos na lixeira de alumínio com detalhes em preto pareciam emitir laser.  Imaginou-se abaixando, pegando a lixeira com as duas mãos e lançando-a contra o teclado do caixa eletrônico. A proteção que envolvia o computador se romperia, e o teclado que a havia enganado inescrupulosamente, submergiria e lhe entregaria seu dinheiro.


Os tensos minutos de espera pela resposta à solicitação de saque, mais pareciam horas. Abusando do poder de posse das mágicas cédulas, a máquina processou seu suplício e ironizou sua necessidade. O dinheiro estava ali, seria só esticar a mão e pegar, se não fosse o sarcasmo metálico falando mais alto e mantendo as cédulas encarceradas.


          Está certo que aquele dinheiro na verdade não era totalmente seu, mas o banco o havia oferecido generosamente por cartas, e-mails e no próprio extrato. Não havia muita escolha, ou aceitava e devolvia com juros e correções, ou deixava o carro sedento por combustível dormir sossegadamente no estacionamento do hipermercado.


          Era uma tarde comum, com pouco movimento, então o espetáculo da destruição do caixa eletrônico seria visto pelos funcionários das pequenas lojas. E enquanto se dirigisse à saída diria aos gritos que voltaria com a polícia. Certamente ouviria alguém dizer:


- Ai vai uma louca!


Pensou no quanto estaria sozinha, porque mesmo as mulheres ao seu redor, naquelas lojas de cosméticos e acessórios não lhe seriam solidárias e confirmariam a tese de sua loucura. Porque as pessoas ficam indignadas e clamam por justiça, mas quando veem outro fazer a mesma coisa, abaixam a cabeça e fingem não ver.


Então ouviu uma voz irritada:

- Vai demorar muito aí? Tem mais gente querendo usar o caixa.


Como que despertando de um pesadelo, voltou-se para as pessoas atrás de si e respondeu quase como um robô:


           - O caixa está com defeito.

         

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