Será que se nós tivéssemos várias vidas conseguiríamos descifrar nossos mistérios? Nos compreenderíamos melhor? Encontraríamos as respostas para nossas perguntas com mais rapidez e clareza? Ou na verdade, poucas pessoas desejam descifrar-se e este incômodo só pertence a uns poucos mortais?
O que sei é que a vida tem um jeito pouco esclarecedor de me tratar. As coisas acontecem e somente após muito tempo elas se explicam. Será que seja porque eu não saiba perguntar ou não aceite de pronto a resposta dada? Será por que tenho mais medo do que imaginava? Eu não sei. Só sei que um dia elas aparecem, elas chegam.
Eu só queria saber conviver bem com as dúvidas e receios até que as respostas chegassem e não sentir tantas emoções desconexas no mesmo dia. Queria ter mais clareza e discernimento dos fatos, das pessoas, das situações. Seria isto uma espécie de controle? De domínio? Me faria mais mal do que bem? Não sei, só sei que é assim. Lento, pouco a pouco, quando menos espero.
Pedir a Deus tenho minhas ressalvas. É certo que Ele me dá o que peço, sempre acompanhado do mesmo manual de instruções com uma única linha: "Vire-se." Ah! É tudo tão estranho. Quando encontro alguém que me marcou de maneira negativa, logo me vem à cabeça: "Como pôde esta pessoa ter o peso que teve em minha vida?" E percebo que não é a pessoa em si, mas o que ela representou num determinado momento de minha história. Foram os seus papéis naquele espetáculo.
Esta noite, conversando com uma pessoa querida que dividiu um período da vida comigo, me dei conta de que nossas vidas apesar de terem se cruzado, mantiveram memórias diferentes de nós mesmas. Eu, cheia de remorsos e traumas. Ela, repleta de lembranças de tardes com violão e ensaios de teatro comigo. Era a mesma cena e o mesmo palco. Fôra eu que escolhera meus papéis ou me foram atribuídos?
Podemos escolher nossos papéis? Podemos decidir em qual palco atuar? Podemos contracenar com quem amamos? Ou tudo é fruto do acaso? Ou de uma identificação? Perguntas, perguntas...e poucas respostas. A única coisa que sei é que no palco que hoje atuo há mais sentido, há mais amor, há mais tolerância, há mais olhar, mais pele, mais suor, mais cheiro, mais braços e bocas. O que sei é que tanto corpo é o que sustenta a minha alma.
Quero acreditar que podemos escolher nossos papéis, porque isso faria mais sentido. Mas também tenho tantas, tantas dúvidas sobre tudo...
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