Existe algumas delícias inomináveis que o mundo moderno e as obrigações da vida adulta não nos permite mais. Uma delas é passar a tarde sentada ao ar livre conversando e ouvindo uma deliciosa pessoa - pois algumas pessoas são deliciosas de ouvir - e revivendo fases da própria vida.
Estava eu ouvindo as peripécias turísticas de minha querida amiga e suas vivências ora divertidas, ora dramáticas, ora profundas e espiritualizadas, um cardápio completo, quando me dei conta de que havia sido inclusa na viagem mesmo sem ter ido. Compartilhou-me uma belíssima experiência à beira-mar com a concha que havia recolhido da areia a meu pedido. Particularmente gosto de trazer conchas das praias e pedrinhas das cachoeiras, mesmo sabendo que não é uma atitude ecologicamente correta. Não sei exatamente explicar o por quê deste gosto, mas creio que minha amiga tenha me dado uma dica.
É como se a concha ou a pedra contivesse o momento mágico vivido ali, como se ao trazê-la e colocá-la em minha escrivaninha eu o mantivesse para sempre comigo e pudesse revivê-lo a qualquer momento. Minha amiga estava com a concha a algum tempo até que decidira sentar para admirar o mar e, por força daqueles pensamentos que não podemos explicar já que são frutos do espírito, viu-se impulsionada a não trazer-me-a. Contou-me quase como quem recita um poema que se a trouxesse aquele momento seria somente meu, por isto, no desejo de imortalizá-lo, lançou a concha ao mar.
Estes gestos são delicadezas divinas que nos pegam de surpresa e enchem nosso coração de alegria. Não tive palavras para dizer-lhe o quanto me era importante e significativo escutar tal declaração de amizade. Não sei se ela sabe que o mar sempre foi um lugar de profunda nostalgia para mim em minha adolescência. Nas raras vezes que nossa família viajava à praia, meu maior prazer era andar pela areia e conversar com o mar. O mar trouxe os meus avós para este país. O mar é para mim a metáfora mais completa de Deus. Há um sentimento de pertença que me invade quando estou diante de sua imensidão. Uma saudade de não sei o quê. Graças a minha queridíssima amiga, de agora em diante eu saberei.
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