Quem sou eu

Minha foto
Gosto de compartilhar pensamentos e vivências, porque ao retirá-los de mim posso enxergá-los melhor.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O talento

        Quando cultivamos um jardim pensamos que de alguma forma nós orientamos a natureza. Plantamos nos espaços que desejamos, organizamos as flores pelas cores que mais gostamos e isto nos dá a sensação de poder, de controle. Pura ilusão, pois nem sempre as plantas se sentem felizes nos lugares em que as plantamos e demoram para se desenvolver ou morrem. Outras que nem sabíamos que estavam ali de repente florescem e alegram os nossos olhos. É uma aventura sentimental um jardim.
        O que as pessoas não sabem é que só cultiva um jardim quem tem um demônio dentro de si. Não é o demônio das igrejas, é o mesmo demônio que atormentava Sócrates. Aquele que o questionava o tempo todo, que o obrigava a pensar, a refletir, a aprofundar questões incômodas. Pois é, meu demônio cultucou-me nesta semana obrigando-me a pensar no conceito de talento.
        Palavra tão usual e até banal. "Você tem talento para tal coisa." "É preciso ter talento para fazer isto". "Aquela pessoa não tem talento algum". E assim seguem os comentários que como ondas de rádio permanecem no espaço psicológico de alguns de nós. Mas o que é talento?
        O critério popular diz que talento é um dom natural. Defendem que a pessoa nasce com ele. Pode ser um talento para música, teatro, pintura etc. Chega às raias do mitológico. Parece algo pronto e acabado que define a vida e o sucesso das pessoas. Mas sejamos um pouco realistas. Será que não estão confusos? Será que na realidade, por questões biológicas, educacionais e sociológicas o que temos são habilidades?
        Rotular uma pessoa de talentosa como algo que já veio pronto e anexo à sua alma é muito perigoso, pois se em algum momento ela falhar, significará que seu talento não fora real? Desaparecera? E quais são as certezas sobre o talento de cada pessoa? Se uma criança brinca com carrinhos significa que ela tem talento para ser corredora de fórmula 1?
        Nossas habilidades são possibilidades, assim como as sementes, assim como os brotos. São oportunidades de nos tornarmos competentes em algo. Uma vez, na disciplina de Literatura Brasileira estudamos um poema por várias aulas, até que um aluno se cansou e disse para a professora. Ela calmamente pediu para que o aluno tivesse paciência pois o poeta havia levado dez anos para compor aquele poema. Fiquei pasma e então compreendi que as grandes obras são dez por cento inspiração e noventa por cento transpiração.
        Tudo é uma convergência de fatores para a planta nascer: o tipo de solo, a época do ano, a quantidade de água, de adubo, de poda e a qualidade da semente, além das formigas que poderão devorá-la ainda pequenas. Assim somos nós réles mortais. Temos as nossas habilidades, as quais serão desenvolvidas ou não, dependendo dos mais diversos fatores: educacional, sociológico, econômico, religioso, emocional e etc.
        Para cultivar o jardim é preciso ter o coração aberto para todas as possibilidades. É preciso releitura constante e muita observação, pois a qualquer momento será preciso mudar alguma planta de lugar para que ela possa desenvolver-se, por mais que eu a desejasse naquele lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer compartilhar tua opinião?