Após uma calorosa discussão precisava percorrer o caminho sozinha, no meu ritmo, com o meu olhar. O mapa me ajudava pouco, já que sou analfabeta geográfica. Mas as placas e os grupos de turistas que apareciam de alguma esquina indicavam que eu estava na direção certa.
Primeiro fui ao Templo de Zeus, ou o que restou dele. Confesso que tenho dificuldades em imaginar como eram as construções a partir de suas ruínas. Contudo, sempre há o fascínio pela exuberância do que restou. Colunas enormes, pedras imensas e o fato de estarem ali há milênios.
Algumas voltas, um sol de quarenta graus sobre a cabeça com finos cabelos, e algumas dezenas de fotografias. O recurso quando se está sozinha é colocar a máquina no modo instantâneo em algum ponto alto e sair correndo para o foco. Esta estratégia chama a atenção de outros turistas que em seu próprio idioma se oferecem para bater uma foto sua.
Com o ingresso de todas as atrações que eu nem sabia onde ficavam, segui em direção à Acrópole. Quando a vi no alto, no topo de uma montanha admirei-me mais uma vez da necessidade que os povos antigos tinham de construir suas representações de poder sempre na parte mais alta da cidade.
Água gelada na bolsa e força nas pernas. A grande maioria são ruínas, indecifráveis ruínas aos olhos de uma amadora arqueológica. Mas o teatro de Dionísio estava ali, bem conservado, inclusive os assentos vips, digamos assim. Busquei um lugar onde não atrapalhasse as fotografias dos outros, o que é quase impossível num lugar destes, e sentei-me. Queria imaginar as pessoas ali, assistindo aos espetáculos e os atores na arena. O sol não me permitiu ficar muito tempo então subi rumo à Ágora.
Ao subir tem-se a sensação de extrema pequenez diante das enormes colunas e escadas e ao descer o sentimento é de segurança, imponência e poder. Fiquei imaginando quantas vezes Sócrates havia passado por ali com os jovens atrás dele atraídos por seu método maiêutico de filosofar. Pensei em sua morte, na condenação injusta e em seu discípulo Platão que dedicou a vida a filosofar sobre a educação dos cidadãos.
Pensei em minha profissão. Estava eu ali em sua origem, em seu berço ocidental. Certamente Sócrates havia se sentado embaixo daquelas oliveiras para instruir a seus discípulos. Não há nada melhor do que sentar-se ao lado de um aluno, embaixo de uma árvore e dialogar. Quisera eu viver esta realidade todos os dias.
Do alto da Acrópole vi toda a área que corresponde ao templo de Zeus e me perguntei por que o construíram tão abaixo. Ocorreu-me que deveriam ter uma escala de importância: no topo a política e a educação, um pouco abaixo o teatro e por último a religião. Não que na Acrópole não houvesse templo, mas era dedicado a deusa Atena.
Quantos professores tive e conheci de filosofia que nunca pisaram ali, sentiram aquele cheiro de oliveira, escutaram o barulho dos pedregulhos sob seus sapatos, sentiram a emoção de sair da ágora e sentir-se grande e poderoso. São apenas ruínas, pedras e aridez, praticamente um cemitério, mas guardam segredos que estão além das fotografias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Quer compartilhar tua opinião?