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terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Senhor

        Resolvi seriamente ter uma conversa com o Senhor. Passar uma vida inteira tentando observar e compreender os fatos, as vivências, sempre sem nenhuma resposta, sem um face a face, não daria mais. Eu queria uma audiência com o Todo Poderoso.

        - Por favor, o Senhor está?

        - Da parte de quem? Perguntou-me um ancião de óculos na ponta do nariz, enquanto olhava uma prancheta.

        - Da minha mesmo - respondi um pouco secamente.

        - E você quem é? - perguntou mecanicamente, ainda sem levantar os olhos.

        A pergunta irritou-me. Quem era eu? Boa pergunta! Aliás havia quarenta anos que eu me fazia a mesma pergunta. Olhei firmemente aquele ancião mais preocupado com sua prancheta do que em atender aos pobres diabos como eu e respondi quase que grosseiramente:

        - Não sou ninguém, não senhor. Não sou rainha, presidenta, madre superiora...não sou ninguém!

        - Ah! Sim - finalmente resolvera mirar-me - o Senhor está mesmo à sua espera. Venha, me acompanhe.

        O Senhor estava à minha espera?! Que conversa era aquela? Eu acabara de dizer que não era ninguém, e aquele velhinho de orelhas compridas me dizia que o Senhor estava à minha espera. Esperei que se distanciasse uns três passos, até que se virou e disse gesticulando: "Venha, o Senhor está à tua espera mas não tem o dia todo". Instintivamente o segui.

        Caminhamos por um corredor luminoso e sem quaisquer adornos, apenas as cores do reflexo da luz nas paredes e no chão. Eu permanecia intrigada e disposta a correr a qualquer momento. Aquela conversa de que o Senhor me esperava parecia mais conversa de doido. Estaria eu num hospício e não sabia? Aquele velhinho seria apenas um enfermeiro me conduzindo a um quarto solitário onde eu receberia eletrochoques até voltar à plena consciência sobre mim mesma? Claro! Só poderia ser. Eu estava doida varrida e aquele enfermeiro, experiente, não contrariava doidos. Parei novamente e deixei que se distanciasse de mim enquanto pensava num plano de fuga. Ele percebeu minha desistência em acompanhá-lo e voltou-se sorridente:

        - Ah, você prefere esta sala? Pode ser. O Senhor te espera aí mesmo.

        Voltei meus olhos para onde ele apontava e vi logo a minha direita uma porta que antes não havia visto. Sem que eu nada fizesse a porta se abriu e a luz que de ali projetou foi tão forte de mal pude proteger os olhos com as mãos.





       




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