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domingo, 26 de agosto de 2012

O pássaro

        Cheguei em casa esta semana após uma intensa rotina de trabalho, cujo desejo e liberdade do outro influi diretamente na existência ou não de um descanso básico para mim. Abri o portão e logo vi um pássaro - rolhinha - no chão com a cabeça voltada para a parede. Guardei o carro e voltei para fechar o portão. Observei que não se movia, então deduzi que estivesse doente ou morto. Aproximei-me, abaixei-me bem devagar e com movimentos leves consegui segurá-lo nas mãos.

        O pássaro - um forte e belo pássaro - tinha o olho esquerdo machucado e a cabecinha bicada. O fato de não enxergar fez com que não fugisse de mim. Levei-o rapidamente para dentro de casa deixando as portas do carro abertas. Ele mal se movia. Peguei uma seringa e um comprimido de anti-inflamatório. Raspei o comprimido o tanto que pensei ser suficiente para seu tamanho, dilui em água e com a seringa fi-lo beber.

        Preocupava-me se estaria com fome. Pensei em sua dificuldade para encontrar comida com apenas um olho. Levei-o para meu quarto e deixei-o dentro de uma caixa de papelão. Após uma hora pude perceber que seus movimentos estavam melhores. Então, fiz uma espécie de papinha de feijão e com a seringa o alimentei.

        Emprestaram-me uma gaiola. Relutei. Nunca gostei de gaiolas, contudo, pensei em sua dificuldade. Eu poderia alimentá-lo até que aprendesse a comer e beber sozinho, ele me faria companhia e em troca teria uma casa e um grande quintal. Carinhosamente coloquei-o na gaiola, cortei uma fruta macia em fatias e deixei próximo a si na esperança de que aos poucos voltasse a comer.

        Fiquei imaginando o que haveria acontecido. Teria ele ou ela apanhado porque defendia seu ninho? Ou seus filhotes? Nunca saberei, porque os pássaros possuem seu processo pessoal de transformação. Entre viver cego e renascer, a liberdade fala mais alto. Penso que os pássaros têm a certeza de que a morte é apenas uma passagem para um lugar onde não há limitações.

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