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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A culpa move os sentidos

        A culpa é o maior motor das ações humanas, principalmente no que tange à cultura ocidental. Até porque na verdade nada sei da oriental. Mas para os cristãos miseráveis a culpa é o que mais sustenta as ações humanas. Por exemplo, pais que se sentem culpados em relação à educação de seus filhos costumam se submeter a eles, principalmente aqueles que trabalham fora e dispõem de pouco tempo de convívio.

        Pode até parecer simplória esta reflexão, mas para a pessoa que vive sob o julgo da culpa, não é tão simples assim. Até porque se fosse tão simples libertar-se dela, não haveria mais a necessidade de religiões. Foi preciso muitos anos e uma interessante viagem para que eu percebesse que minha culpa em relação à minha irmã tem sido o último dos jugos que me mantêm de cabeça baixa e subestimada.

        Por vários anos me culpei, inconscientemente, pelo abandono fraterno ao qual submeti minha irmã. Seu apego para comigo era muito grande e desde que voltei ela possui uma atitude rude, dominadora e opressora para comigo. Sempre que pode me humilha com frases do cotidiano e me olha com ferocidade pelo canto dos olhos.

        Quando me convidou para viajar com ela, eu sabia que não era porque ela gostasse de sair comigo. Nunca o faz, acima de tudo se está com seus amigos. Sempre teve um certo desconcerto quando eu estou por perto. Como se fosse uma espécie de vergonha camuflada. Eu sabia que seu convite era porque ela não tinha coragem de viajar sozinha e eu seria a mais indicada para acompanhá-la, uma porque poderia pagar a viagem e outra porque poderia tirar férias na época em que ela desejava viajar. Contudo, esta viagem também me seria conveniente e interessante. Aceitei.

        Durante vinte e cinco dias ela ordenou todos os meus passos. Corrigiu desde a minha maneira de subir as escadas rolantes no metrô até minhas posturas nas fotografias. Não consegui rir um único dia. Andava pelos museus como se andasse em brasas, nada admirava, nunca parava para fazer um comentário, fosse de admiração ou decepção. 

        Submeti-me como um cordeiro se submete ao seu pastor, mas isto não lhe foi suficiente. Jogou-me na face todas as preocupações que teve, os meses que levou para preparar a dita viagem. Lançou-me no rosto o fato de eu me apropriar de suas fotografias. De aproveitar-me da sua viagem! Acusou-me de ter perdido sua melissa e de não tomar a frente de nada.

        Por que? Esta submissão só pode ser decorrente de um sentimento doentio de culpa. Tomei decisões infinitamente mais sérias do que sair do lado direito ou esquerdo de um trem. Vivi muito mais dificuldades. Sei que eu sou completamente capaz de fazer esta viagem sozinha. Então, após ser humilhada novamente, eu entendi que aqui, no berço do pensamento ocidental, em Atenas, eu deveria ser racional e tomar definitivamente as rédeas da minha vida e seguir o meu caminho. Encontrei uma igreja cristã ortodoxa e uma bela imagem de Nossa Senhora de Fátima para quem pedi discernimento e orientação. Amanhã farei o mesmo no templo de Zeus.  



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