Quando viajamos costumamos observar o sabor dos alimentos e o modo como as culturas os manuseiam. Pouco se diferenciam os ingredientes, mas o sabor e a maneira de prepará-los guardam consigo um pouco da identidade de cada povo, cultura ou geração.
O pão é praticamente um alimento universal. Pelos menos na cultura européia e latino-americana ele está firmemente presente. Seja salgado ou doce, ele ali está. Um pouco mais duro ou mais macio; um pouco menor ou maior; mais claro ou mais escuro, etc, etc, etc. Para os cristãos o pão representa o corpo de Cristo e sua simbologia é altamente sagrada. Para os judeus também, exceto a parte do Cristo. Os povos mais antigos, como os romanos por exemplo, o tinham como principal fonte de alimento.
Quem já preparou pão sabe que o segredo da sua maciez e crescimento está no fato de sová-lo ao máximo. Sovar significa amassá-lo, golpeá-lo muitas e muitas vezes. O pão que não é sovado e tem crescimento estimulado por elementos químicos se torna um pão oco e esfarelento. É realmente bonito por fora, mas ao cortá-lo ele se desintegra na mão.
Pensar no pão me ocorreu após ser tão fortemente "sovada" pela vida, seja no sentido metafórico, seja no sentido literal. Não sei se todas as pessoas nascem com vocação para pão, ou precisem ser tão intensamente golpeadas para crescer, mas, vitupérios à parte, creio que este seja meu mais autêntico processo. Se a proporção do crescimento e da maciez estiver correta, logo logo serei muito mais humana, afetuosa e dócil.
Sinto uma profunda vontade de não fazer com o outro o que fazem comigo. Não sei se isto me torna mais fraca, mais humana ou mais alienada e submissa. Mas sei que interiormente não quero que ninguém sinta as dores que sinto. Ou passe pelas humilhações que já passei.
Por outro lado não sei se este sentimento é na verdade um endurecimento emocional, pois não consigo chorar ou apiedar-me, nem revoltar-me contra quem me cuspiu na face, literalmente. É como se fosse um refresco por lutar e defender meus valores mais profundos. Às vezes sinto-me como se eu estivesse numa escola preparatória, para algo que me exigirá uma postura ao mesmo tempo firme e terna.
Que venham os golpes sovadores, pois como me disse meu anjo de guarda: "Se você o levou foi porque todo o universo acreditou que você aguentaria". Não que meus sentimentos concordem de primeira mão, mas não posso negar que me estimulou à releitura.
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