Sai da terapia um pouco mais tarde, muitos foram os assuntos, todos girando no mesmo ponto. Particularmente não me sentia bem, o excesso de calor baixou minha pressão e o divã com as almofadas me convidavam para me deitar e dormir.
Deixei o consultório decidida a chegar em casa o mais rápido possível, desejando que o trânsito não me fosse tão cruel. Atravessei a rua, abri e carro e entrei. Uma senhora fez sinal para que eu abrisse o vidro, exitei mas abri. "Posso te pedir uma coisa?" - perguntou quase chorando. Logo imaginei que quisesse dinheiro e já me preparava para dizer um não bem redondo - pois mesmo que eu tenha não dou dinheiro na rua - quando resolvi perguntar: "O que a senhora deseja? "Eu sai de casa cedo, estou andando pelos hospitais para conseguir pomada para as minhas pernas e ninguém tem. Eu tô com fome e passei mal, não consigo mais andar". "A senhora quer uma carona, é isso?" Balaçou a cabeça afirmativamente.
Olhei ao redor para ver se alguém se escondia e só estivesse esperando que eu lhe abrisse a porta para me roubar, não percebi ninguém. Contudo, minha percepção para tais malícias é quase nula. Arrisquei e ela abriu a porta. Imediatamente vi suas pernas cheias de varizes, como as pernas de minha avó. Com dificuldades ela entrou e um cheiro forte de urina invadiu meu carro. "Onde a senhora mora?". "Na rua Peri, mas eu quero ir no hospital porque eu estou passando mal". "A senhora sabe me explicar onde fica o hospital?". "Sei, fica na Goiás". Recordei-me que era o mesmo hospital para onde me levaram no dia em que passei mal no trabalho.
Sem muita conversa segui. "Como você se chama?", "Luciana. E a senhora?", "Conceição". Sabe Lú, eu sofro muito com as minhas pernas, doem demais". Fiquei espantada com o grau de intimidade com que me tratou com apenas cinco minutos de convivência. "Imagino, minha avó também tem as pernas assim". "E ela diz que dói?", "Diz sim, diz que dói muito". "Eu não posso operar, os médicos dizem que não sabem o que fazer", "Por que a senhora não pode operar?", "Por causa do coração, Lú. Eu tenho problema de coração e nas costas, olha o meu ombro". Desviei o olhar do volante em direção ao seu ombro, mas não vi nada diferente.
Dois, três faróis e um pensamento: Será que fiz certo em colocar uma pessoa estranha em meu carro?, "Lú, você é muito bonita.", "Obrigada". "Vira a próxima à direita". "Pronto, chegamos." Ela saiu do carro com muita dificuldade e antes de fechar a porta me disse: "Posso te pedir mais uma coisa?", "Depende do que for", "Eu não tenho nada para cozinhar em casa, você poderia me ajudar com alguma coisa?", "Eu não tenho dinheiro, gastei tudo com o cartão do estacionamento". Sua expressão foi de desapontamento. "A senhora vai encontrar uma pessoa boa que lhe ajude." Bateu a porta e se foi.
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