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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A pizza

        Hoje me dei conta de um hábito que tenho. Assim como alguns homens antes de ir para casa param num bar e pedem uma pinga, eu paro numa padaria, assento-me junto ao balcão e peço: "um pedaço de pizza". Preferencialmente de quatro queijos.
        Não são todos os dias. Apenas naqueles em que não quero levar os problemas para casa, ou pelo menos não todos. Assentar-me junto ao balcão e pedir um pedaço de pizza, mastigar pedacinho por pedacinho, vez ou outra olhando o programa inútil de algum pérfido canal de televisão, alivia a minha tensão.
        Hoje, particularmente, havia um paradoxo para digerir junto à pizza. Fora reunião de pais e enquanto uma mãe distorcia todas as minhas palavras, outra me acenava do lado de fora da sala de aula mandando beijos. Enquanto uma me desafiava a explicar o que eu estava fazendo por seu filho, outra me abraçava e me agradecia pelo que eu havia feito. A velha questão de não ser mãe é o trunfo das mães: "Você não quer me ensinar a ser mãe, não é mesmo?" "Não senhora, só posso falar como professora".
        Nestes dias a alma da gente é sugada, pois, as pessoas humilhadas pelo mau rendimento de seus filhos, tentam encontrar uma falha em nosso trabalho. Ou, pior ainda, dizem com todas as letras que não sabem mais o que fazer. "Nem eu" - complemento. De fato eu não sei. O que sei, porque aprendi a duras penas, é que nosso sucesso depende de nosso empenho, em grande parte. Que a disciplina para alcançar um objetivo já é meio caminho andado. Mas as pessoas têm medo da palavra disciplina, como se ela fosse sinônimo de prisão ou tolhimento. O que as pessoas não percebem é que disciplina nada tem de tolhimento, pelo contrário, é a manutenção constante da liberdade.
        Aprendi estes dias com minha terapeuta, evidentemente, que uma criança com rotina se sente mais amada. Faz todo sentido. A rotina saudável propõe segurança. Quando temos uma rotina sabemos o que nos espera, não ficamos à mercê da sorte ou da boa vontade de alguém. Não estou falando da mesmice e sim da capacidade de mudar objetivamente.
        Paralelo a este paradigma pude viver uma emoção positiva ao ver um jogo de futebol feminino. E pensar que eu jogava tão bem, mas não o suficiente para motivar um(a) professor(a) de educação física a montar um time. Não havia rotina na minha vida, não havia constância, planejamento. Cada dia era uma surpresa - dependia do humor da mãe. Ou mudávamos de casa, ou de horário na escola, ou ela mudava de namorado, ou queria mudar o meu jeito de me vestir, ou mudava a religião etc.
        Talvez os homens que param todos os dias no bar para tomar uma pinga o fazem buscando uma rotina. Talvez não a tivessem na infância e não conseguem se sentir amados por suas famílias. Eu ainda não me viciei em pizza. Creio que isto não acontecerá, não consigo manter constância nem em um vício. Logo aquilo me enjoa e me cansa.
        Este ano a vida me presenteou com uma maravilhosa rotina. Uma rotina afetiva que alimenta minha alma. Sei que no próximo ano ela mudará e me preparo para enfrentá-la. Não será negativo, apenas diferente, nova. Assim como uma criança tenho me mantido. Trabalho o sentimento de insegurança diariamente e pouco a pouco a vida tem se tornado mais doce.

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