Para quem não sabe a Luna é a minha cachorra. É uma vira lata que peguei no Riacho Grande e que creio eu ter nascido em setembro, portanto, ela estaria completando três anos este mês. Falando assim, parece algo comum, mas ela não é comum, pelo menos para mim.
Eu já tinha um cachorro - o Lui - que eu trouxera de Peruíbe um pouco no susto. Ele era o último de uma ninhada de seis. Consideravam-no o mais feio, mas ele é lindo. Ainda bem que não o quiseram. Como ele ficava quase o dia todo sozinho eu me sentia mal, desejava que ele tivesse um companheiro para compartilhar suas aventuras por meu quintal.
Acabavam de inaugurar o rodoanel e minha irmã e eu, decidimos dar um passeio até o Riacho Grande para sentir como era dirigir no tal rodoanel. Rapidamente chegamos. Comemos algo na tradicional feirinha, olhamos um pouco de artesanato e logo nos deparamos com um casal de cachorros sendo doados. Eram dois irmãos - um macho e uma fêmea - diziam que eram labradores, como eu nunca tivera cachorro de raça, acreditei. Minha irmã ficou encantada com os dois, mas eu, com o coração partido por separar os irmãos, disse que só levaria um e preferiria a fêmea de pelo preto e brilhante.
Ela tinha outro nome - Tati - mas como nossa prima se chama Tatiana pensamos que não seria nada interessante manter este nome, então, a cem quilômetros por hora, olhei a cachorra no colo de minha irmã e disse: "Ela vai se chamar Luna". "Legal" - disse minha irmã. "Agora você é a Luna" - afirmou abraçando a cachorra que mais parecia estar em depressão.
Luna está comigo há quase três anos. Evidente que ela não é labradora, mas tem um porte atlético interessante. Corre e salta longas distâncias. O que mais me chama a atenção é o fato de ela não permitir que a pegue no colo e nem que lhe faça carinhos sem ser no pescoço. Ela mantém uma postura altiva: cabeça erguida enquanto lhe coço. Sempre desejei pegá-la no colo, assim como faço naturalmente com o Lui. Mas ela não permite. Sempre que pode me olha de relance, como para constatar se eu a observo. Ela não perde nenhum dos meus movimentos e quando quer carinho puxa a minha mão, mas não permite que eu a abrace.
Quando viajei à Europa o mascote de minha irmã caçula foi morto numa briga e suspeitamos que tenha sido ela a autora do crime, pois desde que os outros cachorros chegaram ela se mostra dona do território. Todos a admiram e andam atrás dela. Particularmente hoje, me dei conta de que ela pensa que deve cuidar de mim, por isto não deixa que eu cuide dela.
Estava eu podando uns pingos de ouro quando ouvi os gritos de minha irmã caçula: "Li!!! Olha isso!!!" Quando olhei, minha irmã estava com a Luna no colo, toda dócil. Confesso que senti ciúmes quase que mortal, mas controlei-me. Depois de alguns instantes lá estava ela a meu lado. Cocei seu pescoço e entendi que por mais orgulhosa que ela seja, permitiu que minha irmã a pegasse no colo como um pedido de desculpas por ter ferido mortalmente seu querido Brownie.
Tenho eu que consolar-me com o fato de ela não me perder de vista. Olhar-me furtivamente como se não estivesse interessada e quando quiser, buscar o meu carinho a seu modo. Sei que é sua maneira mais pura de me amar, por isto a respeito e sou feliz por tê-la a meu lado.
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