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sábado, 15 de setembro de 2012

Carta de amor

        "Não mexe comigo que eu não ando só..." canta Maria Bethânia enquanto escrevo. Esta bela voz me reconforta das saudades que sinto de minha tia. Sua juventude fora marcada pelos rebeldes da ditadura e, eu criança, arquivei em meu inconsciente sua imagem dançando pela casa enquanto fumava e tomava cerveja. Seus LPs com grandes fotografias do rosto dos cantores ainda habitam minha mente.
        "Eu não ando só..." Eu tenho todos os meus mortos: pai, bisavós, tios, tias, avós, primos, amigos... Tenho Iemanjá a quem fui oferecida e batizada no mar aos sete anos, morrendo em sete ondas. Tenho a Santa Joana D'Arc e sua loucura corajosa, a quem ofereci minha adolescência. Tenho ao doutor Bezerra de Menezes que acolhera meu pai na eternidade. Tenho a São Francisco de Assis a quem ofereci minha juventude vivendo em fraternidade, assumindo a pobreza, a obediência e a castidade. Tenho a Jesus Cristo a quem me consagrei como esposa espiritual. Tenho a Shiva a quem dediquei minha espiritualidade. Tenho à minha fé que mesclada à minha razão sustenta os meus dias, alimenta a minha alma e dá sentido aos meus passos.
        O que tenho a dizer a quem busca construir sua fé? Nada além de que não podemos viver só. Só com a razão ou só com a emoção. Que a fé não pode ser ingênua quando precisa ser madura. Que a fé deve crescer com o teu pé e a tua cabeça para não ser esquizofrênica e incoerente. Que a fé às vezes será a única coisa que você terá em alguns momentos da vida. Que a fé se cultiva como uma flor rara e delicada. Que a fé em si mesma deve ser anterior à fé no outro.
        "Não mexe comigo que eu não ando só, eu não ando só, eu não ando só..."

   

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