"Sinto falta de abraços conhecidos", me disse após delicada conversa. Eu podia ver em seus olhos o misto de receios, o medo de perder, seus gritos internos para que eu parasse o carro e lhe abraçasse longamente, esquecesse o tempo e ficasse até que sua sede de afeto fosse saciada. Aos poucos conseguiu falar, não necessariamente como desejava porque nestas horas as palavras não dão conta e passamos a desejar que o outro nos decifre e nos dê o que não temos coragem de pedir. Damos voltas com histórias, metáforas e dicas.
"Você vai continuar gostando de mim, mesmo daqui a alguns anos?", esta pergunta me pareceu inadequada, eu é quem deveria fazer a pergunta e não a faço por medo da resposta que o tempo se encarregará de trazer. "Você faz parte da minha vida", respondi. E pela primeira vez pude lhe sentir mais leve, mais livre para falar de si, de seus incômodos, de seus questionamentos, sem precisar usar a máscara da perfeição. "Sinto nossa amizade mais concreta", avaliou. Tentei visualizar uma amizade abstrata, havíamos passado por tantas coisas e tudo fora abstrato? Mas depois entendi que se referia ao nosso encontro de almas, ao sagrado que nos unia, e que agora desejava meu profano tão presente entre amigos. As risadas soltas, as palavras livres, o toque natural, o cochicho das fofocas e segredos, a roupa emprestada, as gozações e até quem sabe, as brigas.
Estamos saindo de patamares diferentes, livrando-nos das escalas hierárquicas que mantínhamos para nos igualar na busca por dias melhores e felizes. Estamos nos permitindo conhecer o mais humano de nós, de nossas fraquezas, de nossos medos, de nossos fantasmas. Por isso, por mais que recebamos afeto, temos uma vontade imensa do abraço conhecido, porque quando nos abraçamos, abraçamos tudo o que já vivemos, tudo o que sabemos de nós, por isto o abraço fica imenso e muito mais do que nossos corpos, abraçamos nossa história.
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