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segunda-feira, 20 de maio de 2013

O carro

        "Avanço, progresso, início de algo novo. Resumidamente a carta simboliza a vitória, a direção, controle, esforço, confiança, caminho. Na caminhada espiritual este Arcano representa o momento em que o viajante passou pela encruzilhada, tomou um rumo firme e está determinado a cumprir mais etapas evolutivas", disse-me a vidente. 

       É exatamente assim que eu me sinto, passando por uma encruzilhada, tendo que escolher percorrer um caminho, que ironicamente ainda não foi trilhado. Eu tentei trilhar o caminho das atitudes e posturas que me tornassem uma pessoa aceitável. "Você tem medo de ser rejeitada?", perguntou-me o doutor. E as lágrimas correram por meu rosto. 

        Eu sou feliz com o meu caráter, não o mudaria, mas mudaria a minha maneira de me expressar, me permitiria errar mais, me permitiria testar mais, me permitiria ser ridícula. Eu queria me despir e correr nu pela rua. Foi isso o que ele fez. Disse-me seu nome, seus sonhos, suas dores e desesperos e se despiu diante de meus olhos. Eu vi seu corpo, seus músculos bem definidos, suas linhas e formas bem delineadas, seu rosto doce, sua voz macia. E o que ele vê? Sua rejeição. Ele foi meu espelho, ele me mostrou como eu me sinto, como eu me vejo. 

        Eu vejo minha rejeição, mas ainda não sei se pelo que sou, ou pelo que pareço ser aos seus olhos. Creio que ela não tenha a dimensão do mal que me fez, por isto a perdoo. Eu desejo mais do que perdoá-la, eu desejo que ela saia de diante dos meus olhos, desejo que ela não me faça me sentir fazendo a coisa errada. Seus olhos são mais invasivos do que os olhos de Deus. Ela está em todos os lugares dizendo: "Não toque, é feio, não mande beijos, não diga eu te amo, não termine uma carta enviando abraços, você só tem o direito de amar a mim". E eu tenho uma vontade desesperadora de dizer, de gritar EU TE AMO! Tenho um desejo desesperado de abraçar, de olhar nos olhos, de colocar no colo, de mimar o outro. 

        Eu me sinto um animal castrado. Eu nasci intensa e fértil, mas ela me castrou porque não sabia como lidar com esta intensidade. Então eu me refugiei no único lugar onde eu poderia ser livre: o pensamento. Passei a viver um universo paralelo, nos meus sonhos e devaneios eu podia conversar, abraçar e amar a quem eu quisesse. E fui ficando cada vez mais só, vivendo no abismo entre o meu real e o meu imaginário. Mas o abismo não é lugar para se viver. 

        Não sei se a minha castração é definitiva ou temporária, mas sei que quero e vou sair deste lugar horrível e desolador que ela me colocou e que eu aceitei, só porque ela é minha mãe. "Você terá que ser a tua mãe e o teu pai", disse-me o doutor. Ainda não sei exatamente como fazer isso, mas vou descobrir, aos poucos, sem pressa, sem cobranças, sem desesperos, no ritmo dos batimentos do meu coração quando está tranquilo. 

       Sinto que comecei a me despir, sinto que alguém não me rejeitará ao conhecer minha nudez, alguém de coração puro que a vida colocou em meu caminho e, depois dela, outros virão, porque eu já não terei mais vergonha, e a minha áurea mudará de cor e, mesmo os que não creem, como eu, se sentirão atraídos pela intensidade das minhas cores e não terão medo de se aproximar, porque se sentirão acolhidos e não terão medo de mostrar-se. Eu não serei uma ameaça, por não saber quem eu sou.



 

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