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domingo, 5 de maio de 2013

O desembaraço

      Quando eu via minha mãe fazer crochê duas cenas me chamavam a atenção. Uma era o fato de ela desfazer todo o trabalho caso não ficasse de seu gosto, ou errasse um ponto, e o outro era que ao desmanchá-lo a linha embaraçava, ela não se preocupava em enrolá-la.

       Quando ela finalmente se satisfazia e chegava no ponto de onde desejava retomar, então decidia enrolar a linha. Acontecia de encontrar vários embaraços e sua principal atitude era quebrar a linha com as mãos, num gesto que me parecia bastante agressivo, e depois emendava-a com um nó. Nas vezes em que eu estive ao seu lado nesta cena, me oferecia para desenrolar os embaraços, e ela com pouca paciência dizia: "Quer desembaraçar? Desembaraça, porque eu não tenho paciência". Eu pensava que nenhum desembaraço pudesse ser impossível de desfazer, já que a origem da linha era ser constante e livre. Então eu me dedicava a analisar o que havia acontecido no processo e aos poucos a recolocava no novelo. Aquilo não lhe fazia nenhuma diferença, creio até que lhe atrasava o processo de retomada de seu trabalho, mas o fato de ver um trabalho pronto e cheio de nós ocultos me incomodava.

      Após tantos anos de lutas e desgastes, observo que essa é mais uma de nossas monstruosas diferenças. Eu sempre desejando e lutando por desembaraçar e ela apenas rompendo e depois remendando. Pode ser que no fundo desejemos apenas continuar e ver o trabalho pronto, cada uma a seu modo.

     Eu posso não conseguir mais desembaraçar nossos embaraços e tenha que seguir adiante com nossos milhares de nós, mas não quero perder ou sufocar minha dinâmica em buscar analisar os processos e aos poucos recolocar a minha linha no novelo.

    Eu estava tão sufocada e perdida que já nem fazia mais ideia do quanto isto é importante para mim, até que resolvi enfrentar meu último e mais cruel embaraço. Pode ser que eu nunca consiga com ela, mas não posso desistir com os outros, porque poder voltar ao meu eixo, poder voltar a ter meus sentimentos livres e direcionados é tão libertador que só me dá a certeza de que estou no caminho certo, pelo menos, de volta ao meu novelo para que a vida faça comigo um trabalho digno de ser apresentado.


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