Hoje é 1° de Maio e eu estou em casa, no conforto e na solidão de uma falsa realidade: a virtual. Tenho saudades dos primeiros de maio em que saíamos em passeata cantando nossos sonhos e desejos de sermos tratados como seres humanos e não como mera mão de obra barata. Queríamos fazer parte da história e estar ali me sentia fazendo parte. Hoje eu parabenizo o "deus mercado" que mostrou a todos que não é necessário sair às ruas e protestar, basta entrar no shopping e comprar nossos sonhos. Eu tenho saudades dos tempos de outrora.
Eu tenho saudades de quando não existia celular e poucas eram as pessoas que tinham telefone, porque as relações tinham mais cheiro, mais sabor, mais calor. O amigo ou o parente ou o namorado vinham nos visitar sem que esperássemos, não precisavam nos enviar mensagem perguntando se estaríamos em casa e agendar um dia. Não nos sentíamos inconvenientes se visitávamos alguém sem avisar. Era uma alegria ouvir as palmas de alguém no portão, se a pessoa chegava era porque ela desejava nos ver. A recíproca era verdadeira, mesmo sem carro, levantávamos nos feriados e domingos e saíamos numa aventura, às vezes acontecia da pessoa vir à nossa casa enquanto íamos na sua. Mas não havia problema, o passeio de ônibus já valia.
Tenho saudades do tempo em que sentávamos na calçada ou no quintal para conversar, tocar violão ou apenas ficar ali olhando o céu, sem que o outro verificasse o celular a cada cinco minutos como quem olha um relógio para ver se já está na hora de ir.
O que aconteceu com a gente? O que aconteceu com as pessoas? Não vamos mais às ruas para gritar nossa insatisfação, porque hoje podemos entrar num restaurante e comer até nos sentirmos satisfeitos, podemos comprar um carro e andar a 200 km por hora e nos sentirmos livres, podemos dormir com quem queremos e no outro dia ir para casa sem nos sentirmos responsáveis pelos sentimentos do outro, podemos comprar drogas que nos façam sair da depressão.
Como dizia o velho Raúl: "Pare o mundo que eu quero descer...".
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