Aqui em casa tem um poço de nove metros, sei que há poços mais rasos e outros mais profundos, mas o meu tem nove metros de escuridão e já estive dentro dele várias vezes. O mais cruel de cair num poço é que ninguém te vê, você literalmente desaparece. Quando você é do tipo que chama pouca atenção, que não está sempre em evidência por algum motivo, a probabilidade de você passar mais tempo dentro do poço é maior, porque não sentem a tua falta.
Para sair do poço há dois caminhos, um é você subir sozinho da maneira que conseguir, arragando-se no que for possível. Outra é gritando por socorro. O problema de gritar por socorro é descobrir que quem virá te salvar não será exatamente quem você pensava que estava ao seu lado, quem você imaginava que perceberia a tua queda e sentiria a tua falta.
Acredito que muitos tombaram ao meu lado, também cairam em poços e eu não percebi. Acredito que muitos esperaram mais de mim e eu não dei. Porque viver é isso, um eterno desencontro.
Na escuridão do poço, ainda sem saber como sairia dele, eu ouvia ecos de palavras que ressoavam do lado de fora. Palavras sobre mudanças, transformações e oportunidades, ao mesmo tempo que vivia a angústia do pior dos desencontros, o de minha mente com meu coração. Diagnostiquei-me esquizofrênica emocional por manter amores imaginários e viver quase como autista num mundo romântico não correspondente ao mundo real.
É comum as pessoas passarem e não ficarem. Elas se aninham por um tempo e depois voam, alguns literalmente morrem, o que dá um desespero absurdo e uma vontade louca de dizer: "fica comigo", porque este é o grito do fundo do poço. Mas de que adiantaria se elas têm os seus destinos, as suas escolhas e você não faz parte delas?
Tenho a sensação de nunca haver feito parte das escolhas de ninguém, sinto que apenas aconteci na vida das pessoas, desde meus pais que não me programaram, minha mãe que optou por outra família, meus amigos que se foram, namorados que perdi, marido do qual me divorciei, etc, etc. E aí eu ouço as pessoas me dizerem que eu tenho um escudo, que eu faço sempre igual. O fato é que existe um segredo e poucas pessoas têm coragem de assumi-lo. Quando nos expomos, como faço agora, damos ao outro a chave da porta do quartinho de nossos terrores, e o ser humano é curioso, em algum momento ele abre. Por mais que você diga e peça para não fazê-lo, um dia o outro abre tua caixa de Pandora e você abre a do outro. E o que acontece? Nos assustamos com o que vemos, com o que descobrimos nos vamos, não por maldade, mas por não saber o que fazer.
Eu ainda não sei ser diferente e me pergunto se é correto sofrer tanto desejando sê-lo. Porque pode ser que esta seja a minha verdadeira natureza, apenas passar pela vida das pessoas e ser grata por isso. Ser alguém que contribuiu por um momento. Pode ser que eu seja uma errante nesta terra árida dos sentimentos alheios e cair no poço seja uma maneira de refrescar-me e eu ainda não saiba e pode ser que tudo não passe de uma alucinação de minha esquizofrenia emocional e pode ser que eu esteja sendo mais ingrata do que grata, mas na escuridão do fundo do poço fica difícil enxergar. Eu preciso de vozes que me chamem constantemente, que me digam: "eu estou aqui, fica calma que vou te ajudar a sair daí". "Você não está me vendo mais eu te vejo". Por enquanto eu percebo a luz, mas tudo está em silêncio.
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