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terça-feira, 2 de abril de 2013

A percepção

        A percepção de si mesmo é algo interessante e ao mesmo tempo complicado. Não basta se olhar no espelho, não basta enxergar as próprias rugas e marcas de expressão. Não basta fazer terapia. Cada dia é uma vida nova e, sinceramente, às vezes cansa, por isto acho extremamente viável não viver para sempre. Não que eu deseje morrer logo, mas viver muito deve ser solitário e cansativo.

        Estes dias vi uma reportagem sobre Rubem Alves e fiquei chocada, não sabia que ele está tão velhinho e pior, com mal de Parkinson. Foi muito triste vê-lo assim, sem poder autografar seus livros, precisando de ajuda para andar, mal conseguindo falar para seu público. Ele estava triste e, sentado num jardim, explicava quantas vezes havia passeado por aquele lugar e o quanto sempre adorou jardins. No entanto, naquele momento o lugar não lhe pertencia mais e nem ele ao lugar. O melhor seria sempre guardar as imagens na lembrança. Concordei com ele.

        Não sei exatamente porque estou escrevendo tais coisas, talvez porque elas simplesmente me veem à cabeça e para que não ocupem tanto espaço em minhas emoções, eu as deposito aqui, livremente para que guardadas permaneçam imortais e fixas, até que alguém as apague.

       Quando olho para os jardins por onde andei, sempre me pergunto se fiz a escolha certa e me avalio como alguém que fez as escolhas erradas, que buscou os caminhos mais complicados e menos seguros. Hoje me sinto para trás, um ser de pouca evolução, fadada a passar os restos de meus dias tentando buscar o sentido de minha existência. Se é que a existência tem sentido. Será que se eu não pensasse nisto seria mais fácil existir?

        Por que a televisão não me distrai? Por que os livros já não me encantam mais? Todos os dias eu admiro meu jardim e percebo que ele cresceu e floresceu, nem tenho mais vontade de cuidá-lo, tenho a impressão de que agora ele se cuida. Meus cachorros já não me preocupam tanto, sobreviveram aos meus cuidados. Por que estas coisas acontecem, por que nos sentimos assim?

       Eu vi uma menina crescer e desabrochar e agora me sinto tão atrás, tão no mesmo lugar, que tenho vergonha de comentar. As coisas e as pessoas nos ultrapassam e nós ficamos imóveis como as pedras, esperando que alguém ou alguma situação nos mova e nos lance ao longe. 





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