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quarta-feira, 10 de abril de 2013

A vidente e a prima

Querida prima Cleuza Ramalho, doravante CR.

        Há quanto tempo não nos falamos, não é mesmo? Espero que esta te encontre cheia de saúde e repleta de felicidade. Decidi escrever uma carta porque esse negócio de Facebook e quantidade de caracteres restringe nossas ideias. Você acha que eu vou ficar contando quantas palavras tem os meus pensamentos?

        Bom prima, eu estou com muitas saudades mesmo. Às vezes fico pensando no nosso tempo de escola, quando nos encontrávamos todos os dias e todo o tempo tínhamos uma novidade para contar, lembra? Tua mãe ficava doida com a gente, com a nossa grudação. Existe essa palavra?

        Depois você foi para a faculdade, mas não foi qualquer faculdade não, foi uma do governo, que honra, e eu casei. No começo a gente se falava quase todos os dias pelo computador, lembra? Tua mãe queria me matar. Depois as responsabilidades foram crescendo, você com os trabalhos e viagens da faculdade, eu cuidando da casa e do marido, o contato foi diminuindo e cá estamos nós, um pouco mais velhas. Eu nunca me esqueci de você, viu? Aliás, deixa eu te contar. Sabe aquele perfume que você usava e eu adorava e quebrei o teu vidro uma vez? Foi sem querer, você já me perdoou, né? Então, logo que nossos contatos foram reduzindo, eu comprei um vidro só pra continuar sentindo você perto de mim. Só de lembrar as lágrimas brotam. Mas a vida é assim mesmo, a gente caminha paralelo, de repente aparece uma curva e cada um segue sua rota.
        
        Então, prima CR eu queria te contar uma novidade, mas senta pra não cair das pernas. Ontem fui numa vidente. É isso mesmo que você está lendo, uma vidente, uma mulher que joga as cartas. Pois é, as coisas mudam e as pessoas também. Já estou até ouvindo você falar: "Eu sabia que você acreditava um pouquinho" e rindo daquele jeito escandaloso e delicioso que só você saber rir. Tá bom, já riu o suficiente, deixa eu continuar.

        A dona Maria, a cartomante vidente, me contou um monte de coisas, falou do meu anjo, arcanjo, arcano, número de nascimento, comentou a minha assinatura e mais um monte de coisas. O meu arcanjo? É poderoso menina, parece que é um dos melhores. Até me senti protegida ao saber. A minha cor é violeta, aceitei, mas não é minha cor preferida. 

       Por que eu fui na cartomante? Tá certo, seria melhor te contar. Eu tô passando por aquelas crises, lembra? Pra você ver, pensei que ficando mais velha elas desapareceriam, mas que nada. Agora quem sabe eu ache o caminho da solução, ou então só quando eu morrer. A dona Maria me mandou tomar banho com casca de laranjeira e beber o chá da casca, uma vez por semana. Já tomei duas vezes só hoje pra ver se a coisa se resolve logo. 

        Eu sou mesmo mal educada, sempre falando demais de mim. E você? Me conta alguma coisa. Eu sei que você conquistou muitas coisas na tua vida e nem deve ter muito tempo pra essa prima velha aqui, mas se sobrar um tempinho, me conta como anda a tua vida, tá bom?

        Depois que nossas vidas tomaram rumos diferentes, eu fiquei um pouco deprimida, entristecida, jururu, mas depois fui percebendo que era preciso, que as nossas almas gêmeas, lembra que a gente falava assim? Então, que almas gêmeas podem se separar mas sempre se acham de novo. Ah! a dona Maria disse que o teu signo é o oposto do meu, tá vendo, por isso que a gente se dava tão bem, dizem que os opostos se atraem. 

        Sabe eu fico chateada lembrando de quando a tua mãe descobriu que a gente ficava dependurada no telefone por horas toda tarde e ela se sentiu traida por você, até te disse que tava decepcionada por descobrir que você fazia coisas escondido dela. Eu me senti tão mal, eu e minha língua solta, que tanto assunto eu tinha pra contar, não é mesmo? Espero que um dia ela me perdoe.

        Eu tô bem, tô feliz, estudei, comecei a trabalhar, de vez em quando tenho umas brigas com o maridão, mas ele releva e tudo bem, me chama de Azeda e como ele é adocicado, a gente de ajeita. Eu tenho muitas saudades, mas é uma saudade boa, de quem foi muito feliz com aquela pessoa, de quem amou e foi muito amada. 

        Eu acho melhor parar a carta, prima CR porque senão ela vai se desfazer nas minhas lágrimas. Você sempre me fez sentir as coisas muito intensamente. Tanto que eu queria te contar outra novidade, vou lançar um livro e logo te mando o convite, é um livro especial onde eu conto, sem que as pessoas entendam, tudo o que vivemos juntas.

        Eu te amo prima e conto com a tua presença, quem sabe agora poderemos fazer um reencontro. 

                                                                                            Beijos e abraços,

                                                                                                   Lindaura de Castro







       


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