Mais uma semana se acaba e hoje é num dia especial, o aniversário da minha irmã. São trinta e dois anos, mas parece que foi ontem que minha mãe chegou em casa dizendo que teria uma menina. Fiquei tão feliz que posso recordar a sensação. Na hora eu pensei: "vou ter uma companheira". Eu me sentia só, era a primeira neta de ambas famílias, tinha o meu irmão, mas ele era um instruso aos meus olhos. As maiores atenções e cuidados eram para ele que sempre estava doentinho, mas não é sobre ele que quero falar.
Quero falar daquele bebê sempre sorridente que eu gostaria de ver novamente. Meu avô lhe fazia um penteado que parecia um moicano, nós ríamos e ela ria de nossas risadas. Era tão bom. Seu nascimento veio suavizar nossa dor, a dor da perda de nosso pai dois dias antes. Foi tudo tão surreal, tão absurdo que nem dá para explicar.
Cuidei dela como a uma filha mesmo tendo eu somente 9 anos e ela me obedecia com tanto respeito e amor que me emociono ao pensar. Não me lembro de uma única cena onde eu tenha precisado chamar sua atenção.
Eu lhe trocava as fraldas, dava banho, preparava a mamadeira, penteava-lhe o cabelo e fazia cachinhos, ela ficava tão bonitinha. Onde eu fosse ela ia, se encontrasse os colegas da escola para alguma festinha ou trabalho, ela ia, de mãozinha dada na maior alegria. Eu a levava para a pré-escola na garupa da bicicleta.
Houve um tempo em que ela precisou ficar com a minha avó, eu sentia muito a sua falta, então fui estudar a noite, aos 13 anos para que ela pudesse voltar e ficar com a gente. Penso que ela deva ter sofrido com nossa distância. Ficar com a avó era bom, mas ela não tinha mais meu avô para lhe proteger e mimar.
Ela ainda era uma criança quando sai de casa. Puxa como ela sofreu e eu também. Se eu pudesse voltar no tempo, mas não posso. Eu estava tão perdida, tão desejosa de ter um lar organizado e equilibrado que pensei ter encontrado num convento, puro engano. Não houve um dia em que não pensasse nela. Perdi sua infância e puberdade. Quando voltei ela já era uma adolescente e havia aprendido a viver sem mim. Foram anos para reconquistar sua confiança e nossa maneira mais próxima de expressar afeto nunca mais voltou a ser a mesma.
Dividimos mais do que uma casa, dividimos uma vida. Quero hoje invocar todos os que já se foram, para que a protejam em sua vida e lhe afastem de todo mal.
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