Eu o-d-e-i-o domingo! Além de escrever eu gostaria de gritar, de uivar esta frase, mas o bom censo me obriga a não fazê-lo. Domingo é o dia da constatação, a constatação de minha solidão, do quanto a minha vida é desprovida de importância.
Passei meu dia pensando nisto, talvez seja desperdício, mas eu precisava entender. Empunhei minha tesoura de poda e liberei alguns sentimentos na unha-de-gato crescida do muro.
Eu estou no limite das minhas forças emocionais, a sensação que tenho é de que cada vez aguento menos os trancos. Sinto uma canseira eterna, existencial e corporal. Às vezes eu gostaria de sair do meu corpo e me olhar vivendo para ver se consigo entender qual é a imagem que passo de mim e conseguir compreender por que é tão difícil as pessoas que me cercam enxergarem minhas angústias, meus medos e minhas carências.
Para quem tem família o domingo é dia de reunião, de falação, de visitas, mas este não é o meu caso. Na verdade nunca foi. Meu pai não fazia questão nenhuma de passar os domingos com a família, sempre preferia os amigos. Depois que ele morreu minha mãe se achou no direito de fazer o mesmo. Ou queria dormir ou sair com seus amigos, os filhos lhe eram um fardo. Eu tinha o hábito de ajoelhar-me à sua frente e lhe implorar que me levasse para dar uma volta, um passeio.
Depois, quando entrei para a comunidade de jovens meus domingos eram mais alegres, íamos à missa, fazíamos picnic ou tínhamos algum evento. Mas minha mãe começou a não gostar e me fazia me sentir uma má filha por não estar em casa para cuidar dos meus irmãos.
Passei sete anos numa instituição onde eu não podia sair nem para visitar minha família e os domingos eram dias de trabalho, nem sequer a televisão eu podia ligar para assistir. Depois me casei e vivi uma imensa solidão na mais cruel rotina de almoçar todos os domingos na casa da sogra.
Nestes anos em que estou livre, fui construindo uma rotina própria onde eu não me sentisse só já que eu teria apenas eu por mim mesma. Tudo estava muito bem e de repente me vejo solitariamente acompanhada, esperando por uma mensagem ou um telefonema, desejando que alguém me pegue pela mão e me diga: "vou te levar para passear, você merece". Esperando uma visita ou pelo menos uma satisfação.
Acho que todas essas minhas experiências me atrasaram o crescimento emocional, porque eu ainda me importo com o que as pessoas sentem. Eu espero uma notícia como uma criança. Se alguém diz que vai me ligar eu acredito e espero, se alguém diz que vai me visitar eu arrumo a minha casa e espero. Eu espero um bom dia, eu espero um boa noite, eu espero a pergunta sobre como foi o meu dia. É muito mais fácil estar sozinha, é menos sofrido, assim não espero nada de ninguém e ouço menos a voz da minha mãe me dizendo o quanto sou ridícula chorando.
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