Quem sou eu

Minha foto
Gosto de compartilhar pensamentos e vivências, porque ao retirá-los de mim posso enxergá-los melhor.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O picnic

        Costumo ouvir elogios para com os europeus e sua maneira de viver, é a tal da qualidade de vida. Quando estive na Europa, principalmente na França vi, e até participei, de um hábito bastante difundido, o picnic. Centenas de pessoas de várias "tribos" sentadas ao redor de uma toalha, comendo baguete e bebendo champagne próximos à Torre Eiffel. Pessoas que haviam saído do trabalho para encontrar os amigos, sentar na grama e comer algo.

        Não estou na Europa, sou filha de um países subdesenvolvido e que agora eles chamam de país em desenvolvimento, só para não ferir tanto a autoestima. Meu país é cheio de verde, posso dizer que até a minha cidade e, ainda mais, a minha casa. Eu tenho um jardim, tenho mesas e cadeiras pelo quintal e no entanto, não faço picnic. Aliás, isto é algo que me incomoda, tendo eu criado espaços de convivência, não convivo. 

        Pode ser que a questão esteja justamente aí, conviver, é viver com e me falta o "com". Claro que muitas coisas faço sozinha, mas um picnic não tem graça sozinha. Fica faltando as quatro mãos para estender a tolha na grama, fica faltando a disputa pelo melhor lugar embaixo da árvore, fica faltando a alegria de ver aqueles deliciosos lanches preparados por outro para você compartilhar. 

       Para alegria de meu coração, uma querida amiga me convidou para um picnic, confesso que a princípio pensei que ela estivesse brincando. Quem na loucura do nosso dia a dia faria um picnic na tarde de uma segunda-feira? Ainda por cima com uma manhã chuvosa? Pois é, nós. E era esta sua amorosa loucura tudo o que eu precisava após um fim de semana tedioso. 

        Fomos a um parque relativamente seguro e limpo. Encontramos uma frondosa árvore e eu logo me aninhei entre suas raízes. Eu ficaria ali horas, eu dormiria ali. Era como sentir um abraço, numa tarde nostálgica de outono. Lanches, biscoito, cocada, suco, um verdadeiro banquete. Alguns sabiás laranjeira voando ao nosso redor, algumas formigas passeando pelo tronco acolhedor da frondosa árvore e folhas caindo, anunciando que o outono estava ali. O outono sempre me pareceu a estação do recolhimento, seus entardeceres beiram a tristeza. 

        Falamos, falei, falei, ouvi menos do que falei, pouco gentil de minha parte. Mas minha amiga é tão generosa e me faz sentir-me tão acolhida que quando percebo já rezei minha ladainha toda. Contudo, hoje, mesmo estando ali, ela não estava bem. Havia uma sombra em seu olhar e seu rosto parecia cansado, sua respiração ofegante, como se algo apertasse seu peito. 

        Conversamos de muitas coisas, mas desta vez pouco nos olhamos nos olhos. Ela, educada para as artes, conseguiu retomar algumas expressões com as quais me acostumei a ver, mas a diferença de situações anteriores é que não soavam naturais. Preocupei-me profundamente e me senti tão incapaz de retribuir o bem que me havia feito. Um picnic não é apenas um momento embaixo de uma árvore, é uma experiência cósmica: eu, o outro e a natureza. Não serve apenas para alimentar o corpo, alimenta os sentidos e ainda por cima, diferentemente de estar na mesa de um bar, a natureza não fica esperando a liberação do espaço para outro sentar e consumir, a relação é gratuita.

        Ela me fez muito bem, me ajudou a começar minha semana de forma diferente. Eu, de minha parte, gostaria que ter a certeza de que a falta de brilho em seus olhos e gestos fosse apenas algo passageiro, como uma tpm ou uma noite mal dormida.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer compartilhar tua opinião?