Mal consigo passar o pente no cabelo, meu pescoço está fervendo. Para outono o sol queimou como verão e meus braços estão feridos pelos galhos e pelo alambrado da cerca, meu pulso dói da tesoura de poda. Eu já estava um pouco desacostumada disto. Este ano praticamente nem trabalhei em meu jardim. Situações novas para administrar, crises velhas reaparecendo e assim o jardim foi ficando.
Mas hoje eu precisava rezar, precisava discernir. Como minha cabeça trabalha constantemente vários pensamentos ao mesmo tempo, eu precisava suar o corpo, pois como dizia São Bento: ora et labora. Várias eram as minhas opções: cortar a grama da parte da frente da casa ou da parte de trás, podar a unha de gato do lado direito ou esquerdo da casa, além de outras, coisa para fazer é o que não falta. Contudo, algo me levou à seguinte tarefa: podar a unha de gato do muro com cerca de alambrado que separa uma parte do meu quintal com o meu vizinho.
Comecei de forma humilde, cortando um galhinho, ajeitando outro, pois a planta já havia tomado a proporção que eu desejava, havia crescido pelo alambrado todo e criado privacidade entre nossas casas, no entanto, ela havia passado os limites e crescido quase um metro para dentro do terreno e no muro vizinho. Foi então que me ocorreu a seguinte história...
Um monge havia pedido para seus discípulos plantarem pequenas mudas de unha de gato no muro do mosteiro para crescer também pela cerca de alambrado e separá-los do vizinho. Obedientemente o fizeram, mesmo alguns pensando que seria melhor aumentar o muro ou colocar tábuas, pois a unha de gato ao crescer exigiria poda o que lhes obrigaria a trabalhar. Como a muda era muito pequena pensaram que demoraria muito para que ela crescesse, por isto não se preocuparam, até que um dia o mestre os chamou e disse: "Nosso vizinho reclama o avançado da unha de gato, quero que vocês decidam qual a melhor solução para o problema".
Alguns ficaram admirados, pois estavam tão acostumados a olhá-la que nem haviam percebido seu tamanho. Cada um analisou a situação e todos voltaram para dizer ao mestre que solução apontavam. O primeiro disse: "Mestre, creio que seja melhor cortá-la pela raiz, já que está muito grande e seus galhos extremamente emaranhados. Depois podemos plantar novas mudas e acompanhar melhor seu crescimento para que não fique novamente neste estado". O mestre ouviu atentamente e nada respondeu.
Depois foi a vez do segundo: "Mestre, acho melhor conversar com o vizinho e pedir-lhe que pode a parte que invadiu seu terreno, ele deveria nos ser gratos já que seu muro é feio, sem reboco e pintura, a unha de gato o embeleza, além de propiciar-lhe contato com a natureza". Deste o mestre também ouviu e nada comentou.
Por fim, o terceiro se aproximou e disse: "Mestre, eu não penso como os meus irmãos, a planta cresceu porque esta é sua vocação, espalhar-se e produzir galhos, ela foi perfeita em seu trabalho, por que deveríamos cortá-la pela raiz e matá-la? Ela cresceu para agradar nossos sentidos e tanto nos agradou que nem percebemos o quanto cresceu. Por outro lado, não devemos desejar gratidão de nosso vizinho, sua visão de beleza não é a mesma que a nossa, não temos o direito de impor-lhe nossa alegria. Todos buscam viver em seus espaços e desejam que ninguém os invada".
O mestre então perguntou: "O que você propõe?
"Eu proponho um trabalho árduo de poda, onde os galhos que invadem o vizinho sejam cortados para que a planta tenha mais forças de crescer em nosso lado". Os outros discípulos não se alegraram muito com a proposta do trabalho árduo, mas eram obedientes. O mestre então concluiu: "Você discerniu bem, esta planta é como nossas relações, nós as plantamos pequenas, com o passar do tempo a intimidade cresce, o amor cresce e nossas vidas se misturam como os galhos, mas se eles começarem a produzir sombra em outros, então é hora de reconduzir, de reorganizar para que a raiva do outro não aumente e seus pensamentos maus afetem teu espírito".
O primeiro discípulo humildemente pediu a palavra e o mestre lhe concedeu: "Mestre, não entendo, se nós a cortássemos pela raiz e plantássemos novas mudas o trabalho seria facilitado e em pouco tempo a planta ficaria do tamanho que o irmão pensa deixá-la". O mestre acostumado a ser questionado, amavelmente respondeu: "Nós não arrancamos as pessoas que amamos de nossos corações só porque estamos numa situação difícil e colocamos outras no lugar, nós lutamos para que elas permaneçam, nem que para isso, seja necessário um árduo trabalho de muitas podas".
O primeiro discípulo humildemente pediu a palavra e o mestre lhe concedeu: "Mestre, não entendo, se nós a cortássemos pela raiz e plantássemos novas mudas o trabalho seria facilitado e em pouco tempo a planta ficaria do tamanho que o irmão pensa deixá-la". O mestre acostumado a ser questionado, amavelmente respondeu: "Nós não arrancamos as pessoas que amamos de nossos corações só porque estamos numa situação difícil e colocamos outras no lugar, nós lutamos para que elas permaneçam, nem que para isso, seja necessário um árduo trabalho de muitas podas".
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