Eu não sei de onde veio a minha alma e nem para onde ela vai. Algumas pessoas insistem em me dizer que nós escolhemos quem e o que queremos ser nesta terra, mas o engraçado é que depois elas querem nos mudar e nós queremos mudá-las. Se cada um é aquilo que desejou ser, então deveríamos apenas respeitar a maneira de cada um ser.
Tenho buscado respostas para os meus traumas a mais tempo do que tenho vivido, e não as encontro, talvez porque não haja traumas, talvez porque eu seja somente um ser mais pensante e mais intensa. Acho constantemente que há algo de errado comigo e me martirizo tentando ser diferente. Ouço: "você tem muita mágoa, você precisa se abrir, você precisa buscar coisas novas, experiências novas, se arriscar mais". Então eu olho e tento entender o que seja se arriscar mais além de sair de casa aos dezoito anos, voltar aos vinte quatro sem trabalho, estudo ou dinheiro, reestruturar a vida, casar-se, depois de sete anos se separar e reestruturar a vida e conquistar uma nova carreira. E agora estar novamente às portas de uma grande mudança. Alguém aí poderia me explicar o que significa arriscar-se mais?
Arrisquei meu conforto familiar, arrisquei minha juventude, arrisquei passar necessidades, arrisquei não ter mais trabalho. O que significa arriscar-se mais? Vamos, por favor, explique, mas explique como se tivesse falando à uma criança de cinco anos.
A minha vida é um risco, arrisco perder a razão todos os dias tentando entender tudo o que se passa ao meu redor, tentando entender as dores e conflitos alheios, tentando entender os meus momentos. Arrisco a minha saúde e integridade física tentando em vão educar filhos alheios. O que eu tenho que arriscar mais?
Sorrir sempre? "Estar con una sonrisa tonta permanente"? para agradar aos que me rodeiam? Para mostrar aos outros que meu mundo pode estar caindo que eu estou em pé? Para quê? Eu quero poder expressar o que estou sentindo seja onde for, quero entrar na minha casa e ficar de mau-humor, não falar com ninguém, deitar, cobrir a cabeça e chorar até molhar o travesseiro. Como dividir a vida com alguém num tempo em que as pessoas não nos permitem "ficar mal"?
Minha alma não se prende a corpos, mas sim a outras almas. É assim que sou. O corpo me satisfaz por pouco tempo, depois esvazia, fica sem graça, perde o tesão, ainda mais quando a alma é ferida, aos poucos, com pequenos gestos, com sutilezas. Eu sou assim, e quero o direito de ser assim! Chega de me sentir diferente e estranha.
"Você está em infinita vantagem em relação à mim e a maioria das mulheres", me disseram hoje. "Por que?" - perguntei. Porque você não termina um relacionamento para colocar outro no lugar, você termina para ficar sozinha, nós, a grande maioria preferimos não terminar para não ficarmos sozinhas". Que ironia.
Eu quero viver a minha juventude e ouço que não posso mais vivê-la, que o meu tempo já passou. Quero fazer experiências que nunca fiz, quero conhecer e estar com outras pessoas, nem que seja por uma noite apenas. Talvez a minha alma seja promíscua e eu a tenha educado a ferro e fogo. Talvez se eu a estivesse soltado mais teria magoado a muitos. Eu não me apego ao corpo, eu quero a alma das pessoas. Por vezes o corpo é a porta da alma, apenas uma passagem, um caminho.
Acabamos sem discussões, eu sem conseguir me explicar, terrivelmente angustiada por conhecer as palavras e não conseguir usá-las devidamente. Mergulhada no redemoinho das muitas que sou. Acabada por me sentir culpada por repetir a cena. Mas se a cena se repete, não será porque este é o enredo que escolhi para mim? Então por que lutar contra?
Seremos amigos? Espero sinceramente que sim, apesar dos outros não terem aceitado esta posição. Talvez seja por isto que nunca me tiveram de volta. Quem sabe, no dia em que alguém entender que preciso mais de um amigo do que de um homem, consiga verdadeiramente ganhar o meu coração. Até lá, quero viver minhas crises, afundar nos meus poços e me reerguer sozinha.
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