O desânimo de Abelha-Princesa era tal que
despertou a atenção de Abelha-Pensante.
“O que te passa minha Princesa?”
Envolta em seus pensamentos, a princesinha
assustou-se ao perceber aquela voz tão conhecida.
“Coisas do reino. Só estou um pouco
preocupada”.
Ajeitando melhor as asas,
Abelha-Pensante questionou:
“O quê de tão grave apaga o brilho de uma
princesa?”
Com os olhos baixos e falando quase para
si mesma, respondeu:
“Acho que não sou a melhor indicada para
ser rainha”.
“E o que te faz pensar assim?”, insistiu
Abelha-Pensante.
“Por mais que eu me esforce,
estou muito aquém do que a Rainha deseja” - disse tentando disfarçar o nó da
garganta.
Abelha-Pensante que conhecia um
pouco dos pensamentos e atitudes das abelhas fez ainda mais uma pergunta para
que seu juízo fosse o mais abrangente e justo possível:
“O que te leva a crer nisto?”
“Ontem foi o dia de apresentar à
Rainha os vários sabores de mel que preparei ao longo dos meses. Segui
fielmente as instruções dos mestres, dediquei-me a cada favo como se fosse o
único. E, quando os submeti à sua aprovação, esperava um elogio, ou pelo menos
uma palavra de admiração por meu esforço. Mas, ao contrário disso, ela não aprovou
meu mel de flor de laranjeira, disse que por ser desta flor, deveria estar
perfeito.”
Abelha-Pensante então compreendeu
que ali se tratava do velho dilema da busca das referências, da aceitação, do
reconhecimento e do amor incondicional. Levantou-se e olhando aquela frágil
princesinha, disse terna e firmemente:
“Vamos voar um pouco”.
“Obrigada Abelha-Pensante, mas
não tenho vontade, preciso pensar”.
Tocando o rosto da princesinha
com suas asas calejadas, Abelha-Pensante disse:
“Venha minha querida. Pensar compete
a mim agora. Você precisa sentir, são os teus sentimentos que estão afetados e
não tua razão. Você confia em mim?”
Olhando nos olhos da velha
abelha, princesinha não afirmou nem negou, apenas se colocou em pé dizendo:
“Está bem, Pensante. Aonde vamos?”
“Vamos ao centro do campo”.
Voaram lado a lado sem dizerem uma palavra. Abelha-Princesa deixava-se levar. Quando
Abelha-Pensante achou que já deveriam parar, pousou.
“Aqui é um bom lugar, desça”.
Princesa pousou e viu ao seu
redor uma grande variedade de flores.
“Agora vou precisar que você
feche os olhos”.
Não lhe interessava mais
questionar, já que fora até ali não lhe custaria nada fechar os olhos.
“Olhos fechados” – disse tentando
imitar um tom de brincadeira.
Abelha-Pensante conduziu-a pela
asa até uma margarida e perguntou:
“Prove o néctar e me diga de qual
flor é”.
“É uma margarida, provavelmente
branca”.
“Muito bem. E esta?”
“É um lírio amarelo.”
Abelha-Pensante conduziu a
princesinha por uma boa extensão do campo, sempre lhe pedindo para beber do
néctar e adivinhar a flor.
Agora pode abrir os olhos. A abelhinha
esfregou os olhos ofuscados pela luz e viu que estavam próximas a um riacho.
Sem saber o que falar, esperou que a abelha mais velha se manifestasse.
“Princesa, você seria capaz de me
dizer de qual néctar ao fechar os olhos você se lembra?”
A abelha pareceu um pouco
confusa, havia provado tantos. Mas sim, um ficara em sua mente,
porque ao bebê-lo sentiu que além de agradar ao seu paladar, acelerara seu
coração.
“Eu gostei de praticamente todos,
mas o néctar do lírio branco foi mais forte. Eu senti uma reação diferente, meu
coração acelerou um pouco”.
Abelha-Pensante que mirava o
riacho se voltou para a princesa cujos olhos agora brilhavam e disse:
“Um
dia você será a Rainha. Todas as flores do teu campo são reconhecidas por você.
Qualquer mel você poderá preparar, mas o mel do lírio branco será a tua
especialidade. Dele sairá o néctar que alimentará as tuas forças nos bons e nos
maus momentos. Ele acenderá a chama da esperança em teu coração, todas às vezes
que ela se apagar. Este néctar será o teu cedro. E um dia acontecerá de você
desejar que ele também seja o néctar de tua princesa”.
Princesinha então compreendeu que
as Rainhas são rainhas porque conhecem cada palmo do seu campo, cada flor. E que
podem preparar todo tipo de mel que desejar, mas que mesmo assim, não são
capazes de abrir mão das próprias preferências e pontos de vista.
“Quer dizer que eu não devo
importar-me com sua observação sobre meu mel?”
“Quer dizer que ao importar-se
você demonstrou respeito e admiração, pois não se achou à sua altura. E isto é
digno de uma princesa. Mas foi, principalmente por você se importar que pôde
descobrir a si mesma como princesa”.
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