Quando ganhamos um presente de quem amamos, sentimo-nos mais felizes, mais amados e considerados. E como devemos nos sentir quando ganhamos um imenso presente de quem não conhecemos, nunca vimos e nem sequer sabemos o nome?
A generosidade é algo tão esplêndido que põe à prova todas as nossas arrogâncias e posturas mesquinhas. Vou me explicar.
Uma grande festa aconteceu neste fim de semana, aliás, muitas festas acontecem todos os finais de semana ainda mais de casamentos. Mas esta foi realmente especial, porque o que imperou foi a generosidade. Os noivos eram pessoas comuns e uma grande festa estava além das suas possibilidades financeiras. Na verdade já viviam juntos havia algum tempo, contudo, desejavam selar um compromisso, queriam que suas famílias testemunhassem seus votos e promessas de uma vida comum, fosse, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença. Sonhavam com um momento em que muitos dos que por eles são considerados importantes celebrassem o amor e o início de uma nova família.
Foi então que desencadeou uma corrente invisível de generosidade. Trajes, maquiagens, cabelereiro, bolo, lembrancinhas, presentes, fotografias, filmagens e tantos outros simbolismos próprios desta celebração foram generosamente tomando forma. Até que todos estavam numa festa com mais ou menos duzentas pessoas. Comida e bebida farta, música ao vivo, muitas fotografias e filmagens profissionais. Amigos, parentes e conhecidos. Todos felizes.
Não se sabe ao certo se muitos perceberam, mas nem tanto ao centro nem ao canto havia uma mesa com apenas duas pessoas sendo que uma delas estava sentada numa desconfortável cadeira de rodas. Um senhor com aspecto caboclo, trajes simples para os padrões de uma festa de casamento, perna direita amputada até quase o joelho e a esquerda extremamente ferida, típico de uma pessoa diabética. A outra pessoa era também um homem que parecia incumbido de lhe fazer companhia.
Às vezes ele ficava sozinho, olhava a sua volta e acompanhava a letra da música com uma alegria serena no rosto. Sem que muitos notassem foi levado até a velha e enferrujada Kombi que o trouxera. Sua deficiência ficou ainda mais evidente quando carregado e colocado no banco do carro. Alguém que observava se levantou, foi até o carro e o homem sorrindo abaixou o vidro e apertou a mão que lhe fora estendida:
- Eu sou a irmã do noivo e quero agradecer pelo o que o senhor fez.
Olhando em seus olhos ele humildemente respondeu:
- Não foi nada. É muito bom ver as pessoas felizes.
- O senhor não tem ideia do bem que fez às nossas famílias - disse-lhe na tentativa de expressar a imensidão do alcance de seu gesto.
- Obrigada por você ter vindo falar comigo - concluiu ainda mais sereno.
Um nó se formou nas gargantas e ambos sorriram. Voltou, sentou-se ao lado de uma senhora e lhe disse ao pé do ouvido:
- Vó, sabe aquele senhor na cadeira de rodas? Foi ele quem deu o porco que alimentou a todos nós nesta festa.
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