O sol de outono que lhe aquecia naquele antigo banco de cimento numa praça interiorana, cujos nomes dos doadores eram os mesmos das lápides, não era suficiente para que desejasse abrir seu casaco. Com os braços cruzados e o queixo quase encostado no peito, observava os poucos transeuntes que se revezavam, ora velhos ora crianças. Jovens raramente.
Havia naquele bucólico espaço o convite a um ritual que consistia em dar voltas e sentar-se. Para os idosos parecia ser uma espécie de exercício físico. Ou seria mental? Dar voltas na praça fortaleceria seus músculos ou suas memórias? Desejavam eles ter a certeza de que andavam em um lugar seguro e conhecido, ou andavam para relembrar os passos do passado? Talvez quando vivesse sua própria velhice compreendesse. Porém, se recordaria de que antes se fizera tais questionamentos?
As crianças, por sua vez, também davam voltas, correndo uma atrás da outra, tentando saltar os obstáculos, desde uma pedra, um relevo na calçada ou mesmo uma planta que estivesse na sua rota de fuga.
Quando se cansavam, se sentavam. As crianças praticamente se lançavam sobre eles da mesma maneira que se lançavam no colo dos pais. Alguns estavam mais corroídos do que outros. Suas inscrições figuravam a mesma data, então por que a diferença? Seria apenas um desgaste natural por força do tempo? Estariam os desgastes relacionados à quantidade de pessoas que os usaram? Ou estaria relacionado ao depósito que as pessoas lhes faziam? Depositavam, juntamente com seu peso, os seus sonhos, alegrias, angústias e tristezas.
Quantas juras de amor, quantas separações, quantos segredos haviam sido depositados naqueles bancos. Decisões importantes haviam sido tomadas ali. Haveria naqueles amontoados de cimento alguma forma de vida que atraísse mais a uns do que a outros? Achou engraçado seu pensamento. O banco à esquerda atrairia casais em crise, o da direita às crianças e os bêbados, o do centro as velhas senhoras que lamentavam a falta de amor e carinho de seus pares. O mais ao fundo atrairia os jovens que praticavam seus primeiros beijos. Aquele no canto convidaria as amigas para comentarem os beijos dados no mais ao fundo. E, por fim, o mais corroído convidaria os solitários e observadores.
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