Quando minha irmã tinha uns dezoito ou dezenove anos ela foi assaltada e levaram sua carteira, era uma carteira de marca que ela tinha trabalhado muito para comprar. Ficou uma semana arrasada, chorou, disse que não tinha sorte na vida, que as coisas de valor dela eram levadas. Nós ficamos sentidos, não queríamos que ela passasse por isso.
Numa tarde seu namorado me telefonou dizendo que um cobrador de ônibus, amigo dele, havia encontrado a carteira jogada no fundo do ônibus. Ficamos super felizes e como faltavam alguns dias para o aniversário dela, combinamos que ele buscaria a carteira e nós lhe daríamos de presente. Mal conseguíamos controlar nossa ansiedade.
No dia do aniversário lhe entregamos uma caixa com a carteira dentro e ficamos na maior expectativa. Ela toda feliz pegou a caixa na mão, balançou-a e abriu. Ao ver a carteira seus olhos se petrificaram, havia horror neles. Ela não queria mais a carteira. Nós ficamos totalmente desconcertados, olhávamos um para o outro sem saber o que havíamos feito de errado. Era a carteira que ela tanto gostava, que trabalhara e economizara para comprar. Jogou-a de lado e ficou chateada. Nós perdemos o rumo da comemoração, nos desculpamos, mas nada alterou seu humor.
Já se passaram quatorze anos e ainda me lembro nitidamente do fato, porque ele sempre me intrigou. Se ela amava tanto a carteira, se havia um vínculo tão grande com ela, por que não ficou feliz ao tê-la novamente?
Nossa intenção era deixá-la feliz, devolver-lhe algo que lhe fora tirado, algo que lhe era importante. Queríamos que ela resgatasse sua alegria e aconteceu justamente o contrário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Quer compartilhar tua opinião?