"Você tem uma ponte nos olhos", disse-me há um ano atrás enquanto eu me preparava para viajar. "Nunca nos separamos por tanto tempo", completou. E eu engoli em seco, pensando o mesmo. Viajei e desejei que visse todos os lugares por onde passei. Pensava em lembranças, em mensagens e recordações.
Um ano se passou e tantas foram as histórias que vivemos, os conflitos que vencemos, as dores e medos que enfrentamos e as feridas que curamos. Não imaginávamos este hoje, cheio de novidades, cheio de amores, de paixões, de buscas interiores, de gargalhadas ao ar num café, de mãos no rosto tentando esconder um rubor novo, de olhos brilhantes e cheios de emoção, de novas cumplicidades. Cúmplices de pijama de bolinhas. Só os cúmplices enxergam a ponte de acesso ao coração.
Há tantas coisas ditas por nossos olhos que as palavras não são suficientes. Talvez haja uma vida inteira oculta neles, uma vida que eu não me lembro ou não saiba que existiu. Talvez haja uma força energética que os atrai pelo prazer de atravessar a ponte, neste mundo onde poucos têm a coragem de olhar nos olhos. Não é uma questão de ver a nudez, é a questão de ver a criança, sem defesas, apenas desejando ser amada, ser um porquê.
Onde estaremos daqui a um ano? Daqui a dois? Às vezes desejo que o tempo passe rápido para saber, mas a mancha senil que cresce em meu rosto me assusta e me avisa para ser prudente, a acalmar o coração e esperar sábia e pacientemente, porque mesmo que a distância nos separe, teremos sempre a ponte que nos une e nos conduz a um jardim secreto, só nosso, cultivado na terra boa de nossos corações, regado pela água de nossas lágrimas, fossem elas de alegria fossem de tristeza e, adubado pelos gestos mais sinceros e afetuosos que pudemos expressar.
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