Cheguei a pensar que o gosto pela terra havia sido apenas uma fase, que trabalhar em meu jardim havia sido apenas um lazer momentâneo. Por seis meses abandonei completamente meu jardim. Entrava e saia pensando que tudo aquilo era demais para as minhas forças, pensando em virar as costas e deixar tudo para trás, não voltar mais. Minha vida se resumia ao trabalho e ao meu quarto, como um exílio. Sim, pode ser que tenha sido um exílio espiritual, momentos de encontro com os meus fantasmas, momentos de lutas interiores travadas com os meus medos.
Eu não tinha forças para nada. Olhava as plantas crescerem e pensava que não conseguiria mais cuidá-las, que tudo se tornara um peso, um fardo, uma obrigação. Isolava-me no quarto e negava-me a cuidá-lo. Chorava até molhar o travesseiro e dormia desejando que o outro dia fosse mais leve. E ao abrir os olhos, ali estavam eles, os meus pensamentos, os mesmos, todos no mesmo formato, iguais. Aos poucos aquela onda, aquele tsunami de sentimentos me arrastava novamente ao meu exílio.
Foram vários tsunamis, arrastando tudo dentro de mim, rompendo as minhas defesas, tornando tudo turvo, desordenando, desorganizando. Pensei que me afogaria, cheguei ao limite das minhas forças, outra vez. Já não tinha mais desejo por tudo o que havia plantado, não queria cuidar, nem fotografar, nem andar por entre as plantas.
Então uma situação delicada se me apresentou e, como sempre na vida, eu tinha duas alternativas, fugir, me esconder ou enfrentar. Vesti novamente minhas roupas velhas, a meia furada e o boné. Quando dei por mim estava novamente em meio ao jardim sob uma espessa neblina, absorta no trabalho de podar a unha-de-gato que crescera para o lado do vizinho.
Aos poucos fui percebendo que ao contrário do que eu pensava, nenhuma daquelas plantas precisava de mim, elas já tinham tudo o que lhes dava vida: terra, água e sol. Estavam crescidas e fortes sem que eu as ajudasse em nada; estavam floridas e cheias de broto sem nenhuma necessidade de mim.
A chuva começou a se intensificar e a realmente me molhar, estava frio. Eu não queria sair dali, eu precisava que aquela água gratuita do céu limpasse os meus pensamentos, os meus sentimentos. Eu estava entendendo, não era o jardim que precisava de mim e havia se tornado um peso, era eu quem precisava dele. Por mais que eu o limpe, pode, organize, ele continuará crescendo, não haverá o momento final em que me sentarei para observá-lo e o admirarei, isto seria pretensão divina.
Todos os dias ele cresce, todos os dias uma planta nasce, outra cresce e outra morre semeando novamente a terra. Porque assim é a vida, independente de mim. Posso pensar que houve uma pausa, que perdi tempo chorando em meu travesseiro, que deveria ter feito diferente. Mas na realidade não há pausa, há apenas mudança de estação.
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