Tenho pensado que todos nós paramos de crescer num determinado momento da nossa vida, marcado por algum fato traumático. Não sou psicóloga, mas tenho o hábito da reflexão. E esta parada define toda a nossa existência, as nossas opções profissionais e afetivas, ou, pelo menos, influencia muito. Tenho a impressão de que pessoas que gostam de trabalhar com crianças, pararam de crescer na infância, eu, particularmente sempre estive em meio a adolescentes, eu parei de crescer na adolescência, hoje posso perceber com clareza esta questão.
Os questionamentos da adolescência, as crises, os sonhos, os desafios, as opções, todas sempre intensas e extremas. Típicas da fase, típicas da vida de todos, ou pelo menos da grande maioria dos que passam por esta ponte entre a infância e a vida adulta. Eu parei ali e por mais que eu ande, a vida sempre me retorna.
São milhares os que já passaram por minhas mãos, já ouviram a minha voz, já sofreram sob meus comandos, já se alegraram com a minha atenção. Não sei calcular os erros e acertos. Não sou capaz de contabilizar minha influência positiva ou negativa em suas vidas. O que sei é que respeito a fase em que vivem. Sei o quão difícil é passar por ela e que nem sempre há alguém para dar a mão e orientar o caminho, por isso teimo em ser firme e fazê-los acreditar que podem caminhar sozinhos. Esta é uma tarefa solitária e pouco compreendida.
É um universo intenso demais, fácil de se perder no turbilhão das emoções à flor-da-pele e ao mesmo tempo sedutor, encantador, cheio de sonhos, de esperança. A prudência da vida adulta sempre me indicou o caminho da polidez, da sensatez, do distanciamento saudável. Até que a vida me passou a perna pela primeira vez e eu me deixei levar pela mão, pelo pé, pela cabeça, e acima de tudo, pelo coração amedrontado. Bati minha cabeça na parede várias vezes tentando entender o que deveria ou não fazer. Tento metáforas, analogias, semelhanças e encontro um termo que aquieta e amedronta meu coração: maternidade espiritual. A vida e suas intempéries me negaram a maternidade biológica, mas ela está dentro de mim, em meus gestos, meus sentimentos.
Reluto com tal palavra, porque ela pode causar muitas confusões, mas se bem entendida, poderá ser útil. A maternidade espiritual é aquela que provêm dos mestres, dos filósofos, e com isso eu posso conviver. Meu coração se alegra quando posso orientar, provocar, estimular a pensar, provocar a descobrir-se, não às minhas verdades, mas a si mesmo. É como se eu sentisse seu coração jovem batendo em minhas mãos e como numa mágica, o meu voltasse a bater como se fosse jovem novamente. Eu me encho de sonhos, de esperança, e passo a ver com olhos inocentes.
Não me importo com as perguntas, não as temo, não fujo delas, elas me obrigam a rever minhas verdades, meus valores, a questionar se meu alicerce é firme. Se me pergunta é porque lhe importo, porque minhas respostas têm valor. Assim, nos tornamos parceiros neste crescer, nesta fase e eu me alegro e sou grata pela vida me dar uma segunda chance de aceitar o amor que me oferecem.
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