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segunda-feira, 25 de março de 2013

A escova

        Cheguei em casa e fui escovar os dentes, pois havia almoçado na rua. Em meio à minha higiene bucal uma dúvida acelerou meu coração: "Esta é a minha escova de dentes?". Retirei-a da boca, e comecei analisá-la, era cor de rosa. Olhei para o suporte de escovas e a outra, azul, estava ali, imóvel, sem me responder à dúvida cruel.
 
        Nada vinha à minha cabeça que esclarecesse qual das duas era a minha escova. Como pode ser isso? Como algo tão nosso, tão pessoal pode ser esquecido desta forma? Não é uma escova nova. Pensei na angústia da velhice. Fiquei com medo, parei de escovar os dentes e lavei bem a escova caso aquela não fosse a minha. Uma tristeza pairou sobre mim.
 
        O que havia em minha cabeça que apagara tal informação? Por mais que eu tentasse não conseguia saber. Pensei que eu devesse esquecer outras coisas, deveria esquecer coisas que me fazem mal, que magoam, que machucam. Eu havia tido uma discussão com minha superiora pela manhã e o fato ocupava minha mente de uma maneira mais do que necessária.
 
        A imagem da discussão se repetia, se repetia, e eu tentava entender. Aquela pessoa, naquele momento, representava todas as minhas perdas, representava o abuso de poder, o abuso da minha boa vontade, o abuso da minha postura de responsabilidade. Ela assumia a forma de um mostro devorador. Era a personificação dos que brincam com a minha boa fé. E eu não vou mais aceitar isto, pensava.
 
        Vou enterrá-la, desaparecer com sua presença, dispensá-la de meu dia a dia, proteger-me, vou vestir a capa da invisibilidade. Algumas pessoas nos fazem muito mal e saber distanciar-se é saber preservar-se.
 
        Tive que telefonar para minha irmã e perguntar qual era a minha escova de dentes: "É a azul, a minha é a rosa" - respondeu.

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