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domingo, 10 de março de 2013

O colchão

        "Preciso ir embora". "Não vá, fica comigo." Abraçou-me fazendo com que nossos corpos suados quase se fundissem. Eu não sabia o que dizer, não estava acostumada a que me pedissem para ficar. "Eu quero cuidar de você". Olhei-o com ternura. Alguém deseja cuidar de mim, pensei. Tudo o que eu pedira à vida era alguém que cuidasse de mim. "Por que você me olha assim?" "Assim como?" - perguntei. Eu não sabia como responder sobre meu olhar. Nem sempre consigo dizer com palavras o que sinto, a admiração, o amor e a ternura que me comovem, então eu olho, olho a pessoa amada no desejo de que meu olhar expresse o que não sai da garganta.
 
        Eu desejava ficar, mas não podia, não agora, não hoje. Tenho medo, medo da dor, da desilusão, da incerteza. "Se eu ficar você vai enjoar logo" - brinquei nervosamente. "Eu vivo com você tranquilamente, eu sei que sim". Como ele pode ter tanta certeza? Minhas cicatrizes são muitas. Eu não aguentaria uma nova rejeição. Pensei que para ele não seria fácil dizer aquilo, já que seu sofrer também era intenso.
 
        Nos abraçávamos cada vez mais e suas mãos em minhas costas me acalmavam, me tranquilizavam. Aquilo era tudo o que eu sempre desejara e agora que acontecia, por que eu não gritava de alegria dizendo sim, aceitando como uma adolescente. Porque os traumas da vida nos ensinam a ser prudentes e sensatos. Mergulhados nas profundezas de nossos olhos conversamos sobre nossos medos, anseios, projetos e realidade, sem medir o tempo, sem atropelar as palavras. Não houve juras, nem declarações emotivas de amor e paixão. Houve ternura, cuidado e carinho. E o suor de nossos corpos nus e sem defesas selou nosso compromisso de melhorar, de vencer nossas mazelas, de nos prepararmos para compartilhar mais do que um colchão.
 
 

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