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sexta-feira, 15 de março de 2013

Sexta-feira

        Sentada na mesa de uma padaria tenho vontade de cantar: "Tem dias que a gente se sente como quem já partiu ou morreu...", o cansaço da sexta-feira só é superado se temos em perspectiva um bom fim de semana, desde que o seu carro não resolva quebrar pela terceira vez no mesmo lugar e neste caso nem posso culpar o mecânico, provavelmente é defeito de fabricação.
 
        Comprei meu carro há três anos e todos os anos o reservatório de água do radiador racha fazendo a água vazar e o motor quase fundir. Como um objeto tão importante pode ser tão menosprezado e feito de plástico de má qualidade? Parece-me que querem justamente que o motor funda para que compremos outro carro. É a maldita sociedade consumista.
 
        Esta situação me faz pensar que preciso ficar atenta ao meu reservatório para não fundir o meu motor. Meu reservatório precisa mais do que água, precisa de afeto, de compreensão, de mais qualidade de vida. Não que eu considere minha vida má, mas a questão da qualidade hoje em dia está em voltar às raízes, ter uma vida menos corrida, menos estressante, e como fazer isto trabalhando tão longe do serviço e administrando os ânimos e desânimos de tantos? Ainda não sei, só sei que enquanto tomo um suco de uva e espero o conserto do carro, penso.
 
        Quando eu buscava a peça para o mecânico trocar precisei deixar meu carro dois quarteirões longe da loja por falta de lugar para estacionar na rua. Acabei deixando-o em frente à casa de minha avó. Quando voltei o portão estava aberto e uma mulher que desconheço o estava fechando. Engraçado, se eu tentasse entrar ela com certeza me teria barrado. Logo eu que morei três ou quatro vezes ali em fases diferentes da minha vida. Olhei a casa por detrás do muro e nada senti, nem saudades e nem pesar. Foi como se eu nunca estivesse entrado ali.
 
        Entrei no carro e sai pensando se eu havia endurecido, mas compreendi que o espaço físico nada é. Na verdade nossos espaços são interiores e a memória nos ajuda a mantê-los vivos. Os espaços só têm sentido pelas pessoas que ali encontramos e pelas experiências que com elas vivemos. Quando as pessoas que amamos estão ali, então há vida, há pulso e o nosso coração pulsa diferente somente ao passar pelo lugar. Mas se eles não mais estão, tudo fica sem sentido.
 
        Quando penso naquela casa vejo-a cheia de gente, de vozes altas, de gritos com as crianças. Sinto o cheiro do café com leite que minha avó fazia questão de colocar no copo para mim, coado para não entrar a nata, ouço o bater de bola nas paredes e vejo o jardim gramado e florido.

        Logo após sua partida retirei de seu jardim as poucas flores que sobraram e as levei para casa. O aspecto abandonado de sua residência me fez pensar em como as coisas se deterioram, acabam, perdem a graça. Mas hoje descobri que nada se perdeu, tudo está vivo dentro de mim, das minhas lembranças, das minhas memórias, marcadas na minha pele e na minha alma.  
 
        "Mais alguma coisa, senhora?", "Hã? me desculpe, estava distraida, quero um pedaço de pizza de quatro queijos, tem?", "Tem sim."

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