A árvore e eu

        Quando uma fruta não é colhida pode acontecer dela cair, apodrecer e de sua podridão nascer outro pé da mesma fruta, já que sua semente se mistura com a terra. Ou pode acontecer dela murchar no pé até não servir para mais nada. Os dois processos são difíceis. O de se desligar da árvore é amedrontador, pois a árvore é a fonte, é a casa da fruta, é sua segurança. Por outro lado, permanecer na árvore não é garantia de felicidade, pois o fruto secará e para nada mais servirá.

        Nestas minhas andanças, passei por várias árvores e de todas fui colhida antes da hora, ainda verde. De repente, sem que eu menos esperasse pude crescer novamente, em outra árvore, jovem, cheia de vida, que me deu de sua seiva e eu pude chegar ao ponto de ser consumida. Agora só me resta saber qual das possibilidades devo assumir: soltar-me do galho e me deixar alcançar por alguém que esteja passando e de mim se alimente ou ficar e, por medo, murchar. 

        Por mais que eu queira, por mais que eu deseje, por mais que eu peça, a árvore não pode me dar mais, ela tem outros frutos, é uma árvore fértil. Não quero murchar no pé, não quero ser um peso num galho, mesmo fazendo parte da árvore. Por mais difícil que seja, por mais doloroso e assustador que seja, eu prefiro me soltar, porque assim terei a oportunidade de apodrecer, de me misturar com a terra e ver minha semente crescer. 

        Eu não havia percebido quem era a árvore e quem era o fruto, por isso agora entendo porque há tantas perguntas sem respostas. A árvore não precisa explicar ao fruto qual sua importância, nem lhe mostrar nada, nem provar nada, o fruto já é a prova. 

        Estou com medo, sinto-me como se me lançasse no desconhecido, mas algo muito forte me diz que isto é o correto a ser feito e que pelo menos desta vez, eu não estou verde, desta vez a escolha é minha, e desta vez eu terei a oportunidade de me tornar também uma frondosa árvore e compartilhar de seu ser mais do que antes.


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