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quarta-feira, 5 de junho de 2013

O mestre zen

        Alguns dias são absolutamente surpreendentes, principalmente quando recebemos a visita de alguém que amamos muito. Uma velha amiga veio me ver e tal foi nossa alegria em nos revermos que nosso abraço durou sete segundos. Não que eu tenha contado, mas um querido amigo que estava junto exclamou: "Nossa, um abraço de sete segundos". É engraçado pensar nisso, porque geralmente nossos abraços devem durar dois ou três segundos normalmente, exceto abraços em dias de velório ou quando alguma tragédia nos passa. Nosso abraço não era de velório e nem de desgraça, era de alegria por nos reencontrarmos.

        Passeamos um pouco, nos sentamos, comemos, bebemos, rimos e num determinado momento ela me disse que ultimamente se sentia sufocada e que não entendia porque nem sempre conseguia ser em casa tão espontânea e autêntica como era com os amigos. Percebi que isto verdadeiramente a incomodava. Questionei-me interiormente sobre o significado de sincero e autêntico e nem por um segundo acreditei que aquela pessoa não fosse assim em qualquer ambiente. Creio que aconteça com minha amiga o que acontece com todos nós em algum momento da vida. Eu não soube o que lhe dizer porque percebi que ela precisava falar e mais do que ouvir a mim, ouvir a si mesma.

      Lendo Osho, porque agora vivo uma fase oshiana, deparei-me com uma história que fez-me lembrar de minha amiga: "Dizem de um pintor zen, um mestre zen... Ele estava fazendo um desenho, um projeto, para seu pagode novo, um novo templo. Ele tinha o hábito de manter seu principal discípulo ao seu lado. Ele fazia o desenho, olhava para o discípulo e perguntava: "O que você acha?"

        E o discípulo dizia: "Não é digno de você". Então ele o jogava fora.

       Isso aconteceu 99 vezes. Três meses se passaram e o rei estava sempre perguntando quando o projeto seria concluído, quando o trabalho poderia começar. E um dia aconteceu: o mestre estava fazendo o projeto e a tinta secou, então ele disse ao discípulo para sair e preparar mais tinta.

      O discípulo saiu, e quando voltou, ele disse: "O que? Você fez isso! Mas por que durante três meses não conseguiu fazer?"

      O mestre disse: "Por sua causa. Você estava sentado ao meu lado e eu estava dividido. Você estava olhando para mim e eu estava preocupado com o resultado, não era divertido. Quando você ficou ausente eu relaxei. Senti que não havia ninguém ali, fiquei inteiro. Eu não fiz este projeto, ele veio por si só. Durante três meses, ele não veio porque era eu quem fazia". 

       Pode ser que eu estrague a história tentando refletir a respeito, mas como minha amiga viajou, não conseguiremos conversar e para não deixar que a brisa passe, vou matutar um pouco. 

       Nossa família é como o discípulo, sempre ao nosso lado, observando nossos projetos, avaliando o que ou quem é digno de nós. Estão sempre esperando resultados, porque se fracassarmos significará que eles fracassaram em nossa educação, em nosso encaminhamento neste mundo e nenhum pai ou mãe deseja isto para si, é a parte egoisticamente inconsciente de nossos genitores e nossa enquanto genitores. E isto não é divertido, não relaxamos, estamos sempre desejando fazer o melhor e 99 vezes tentamos. Eles não fazem por mal, fazem porque nos admiram, porque acreditam em nossa habilidade, acreditam que somos os melhores do mundo, mas são incapazes de perceber por si só que a única coisa que conseguem com isto é nos paralisar, nos dividir. Por outro lado, quando estamos com nossos amigos somos leves e nos divertimos, nos tornamos mais espontâneos, porque a principal finalidade de se ter amigos é divertir-se com eles, compartilhar algo nosso, desfrutar de alguns prazeres recíprocos. Eles não necessitam de nossos resultados, eles querem a nossa companhia.

       O discípulo está à disposição do mestre, serve ao mestre, assim como nossa família nos serve, nos alimentando, nos vestindo, nos calçando, nos educando, nos curando. Já os amigos não fazem nada disso, podem até nos emprestar dinheiro, roupa e calçado, nos dar uma carona ao médico, mas não nos servem. É por isso que a família se sente no direito de ficar ao nosso lado como críticos de nossos projetos. Esta é a realidade de todos nós, não há escapatória. É natural que nosso comportamento familiar será um e com os amigos outro e tem que ser assim, para haver equilíbrio.

      Eu gostaria de dizer à minha amiga para ter paciência consigo mesma e viver este momento como uma oportunidade. À medida que nos conhecemos, descobrimos nossas habilidades e nos libertamos da necessidade que nos impuseram de produzir resultados quase como uma garantia de recebimento de amor e admiração, aprendemos a brincar, mas isto vai depender do quanto de tinta ainda se tem.

 

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