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sexta-feira, 7 de junho de 2013

As portas

"Uma vez eu sonhei que era uma borboleta, voando entre as flores e arbustos do jardim. Tudo era tão concreto e real que em momento nenhum do meu sonho suspeitei que a borboleta era eu ou que eu fosse a borboleta. Para todos os efeitos possíveis e imagináveis, eu era, eu agia e eu realmente me sentia uma borboleta, cumprindo o destino de uma borboleta qualquer. De repente, eu acordei e lá estava eu sendo a pessoa que eu sempre fui - ou que sempre imaginei ser.
Sei muito bem que entre um homem e uma borboleta há tantas diferenças fundamentais e insuperáveis que a transformação de um no outro é algo simplesmente impossível de acontecer no mundo real. É por isso que, desde então, eu nunca mais tive sossego quanto à minha verdadeira identidade. Pois não há nada que me permita saber, com toda certeza e rigor, sem nenhuma margem de dúvida, se eu sou verdadeiramente um homem, que um dia sonhou que era uma borboleta, ou se eu sou uma borboleta, sonhando que é um homem". (Chiang Tzu)

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        Sonhei que eu estava dentro de um jogo. Eu flutuava sobre um cenário em cujo centro havia um círculo pequeno com uma chave brilhante, e deste círculo saíam linhas que direcionam à seis portas. Eu estava só, diante de mim apareceu um grande dado que eu deveria jogar para saber em qual porta entrar. As portas não estavam trancadas, então não seria necessário pegar aquela chave no centro do círculo, ela era o objetivo do jogo. As regras consistiam simplesmente em entrar e conseguir sair de todas as portas na sequência em que o dado ditasse. Então eu o lancei pela primeira vez. 

      Número 1 - a porta da Mãe. Meu corpo baixou sozinho e me vi diante de uma porta. Estiquei a mão, lentamente a abri e entrei. Era uma sala apertada, com poucos móveis, teto baixo e pouco iluminada. Sentei-me num canto entre duas paredes, dobrei os joelhos contra meu peito, curvei a cabeça sobre os joelhos e senti vários tipos de dores.
Mal conseguia levantar, tudo era dor, todo o meu corpo doía, reclamava e um peso enorme sobre minhas costas me dificultava em andar. Saí, atordoada, sem saber direito onde estava e o que deveria fazer. Uma força me puxou e voltei a pairar com o dado diante de mim. Lancei-o.

        Número 4 - a porta da avó Paterna. Baixei e entrei. O espaço era amplo e confortável. Muitas almofadas pelo chão, teto alto e raios de sol entravam pela janela. Deitei-me no chão e abracei a maior almofada. Senti-me segura, querida, cuidada, poderia ficar ali para sempre. Depois de um tempo levantei-me e sai. Voltei a pairar e percebi que já não estava tão alto como antes. Lancei novamente o dado. 


        Número 3: a porta do avô Materno. O espaço era amplo e abafado, quase sufocante. O teto muito alto com vários objetos presos que balançavam ao sabor do vento. Havia somente uma poltrona. Sentei, cruzei as pernas como índio e permaneci. Senti uma urgência de ir como se a qualquer momento o dono da poltrona chegasse. Levantei-me e saí.


        Número 5: a porta do avô Paterno. O espaço era amplo e muito frio. Havia um sofá, algumas almofadas no chão e uma cama. O teto era alto e o frio entrava por todos os lados. Tentei me acomodar no sofá, encolhida, mas o frio incomodava meus ossos. Levantei-me e sai.


        Número 2: a porta da avó Materna. O espaço era muito pequeno, apenas com um tapete no chão. Ficava difícil mover-se. Havia muita sombra e quase não se podia respirar. Fiquei pouco tempo em pé e saí.


        Número 6: a porta do Pai. O espaço era mediano e úmido. Havia somente uma cama de casal e o teto era baixo. Deitei-me e às vezes alguns filetes de luz aqueciam metade da cama. O teto parecia baixar e uma estranha sensação me faz levantar e sair.


      Ao sair da porta do Pai eu não mais flutuei e uma força me puxou ao centro, em direção à chave. Meus passos eram lentos e seguros. Estendi a mão, peguei a chave e todas as portas desapareceram dando lugar a uma nova que surgira, era uma porta enorme e ampla, e nela se lia o meu nome. 




       








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