"A ciência surgiu da mente grega, o mito surgiu da mente indiana, e só existem duas maneiras de olhar o mundo: uma é a ciência, a outra é a religião. Se você olhar para o mundo, um dia através da ciência, outro dia através da religião...". (Osho, p.90, 2012)
Eu gostaria de poder completar a frase, mas não tenho muitas certezas, me parece que seria o ideal, pois ambas visões se complementariam e eu viveria em equilíbrio. O mais intrigante desta afirmação é que uma pessoa como eu poderia pensar que já viveu sob o olhar da religião e ironicamente isto não procede, apesar de ter passado toda a minha juventude numa instituição religiosa. Acontece que a religião para à qual me consagrei se consolidou sob as bases do pensamento grego, filosófico, principalmente platônico. E Osho não se refere a esta religião.
O pensamento filosófico é analítico, matemático e lógico. Então eu conheci um Deus cartesiano, com olhar analítico enquanto coçava a barba. O pensamento religioso do qual se refere Osho é mítico, poético e fictício. É exatamente este momento que desejo viver, é este olhar que pretendo desenvolver. E por que justo agora quando já vivi mais da metade de minha vida? Porque pessoas como eu vivem a mania de aprofundar as coisas, de querer saber sempre mais. Querem ser fiéis às suas crenças e foi justamente o que vivi com minha mente filosófica. Felizes são os que descobrem o caminho do meio ainda na juventude, provavelmente serão mais tranquilos e confiantes.
Reverter a visão quando já se possui tantas seguranças e certezas não é uma tarefa fácil e posso afirmar sem medo de errar que a maioria das pessoas preferem permanecer presas às suas verdades do que arriscar-se, mesmo que isto as deixe infelizes.
Evidentemente não sou um exemplo, mas posso afirmar que de uma maneira ou de outra fui percebendo os toques que a vida foi me dando. Mudar não é algo fácil e nem é feito de uma hora para outra, é necessário decidir o que levar, o que jogar fora, o que doar, depois encaixotar tudo, carregar e encontrar novos espaços para colocar tudo de maneira que a vida volte a ter um fluxo.
Quando somos pegos de surpresa por alguma situação catastrófica como a perda de um emprego, um divórcio, a morte de alguém, o rompimento com algum familiar ou amigo, a mudança incomoda mais, pois parte do princípio da não escolha. Mas quando a vida carinhosamente nos dá alguns toques, podemos nos preparar aos poucos, iniciar o processo de desapego, decidir o que levar, o que doar, o que deixar.
Posso sentir, e isto não está sendo racional, que eu estou exatamente nesta fase, pela primeira vez a vida está me dando toques leves, carinhosos e aos poucos me conduzindo a uma nova realidade, a qual nem consigo imaginar, e isto, definitivamente, faz parte do pensamento religioso.
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